Em entrevista, Bruno Martini revela bastidores do álbum "Original" e conta: "Esse sempre foi um sonho meu".




Um dos maiores nomes da música eletrônica brasileira finalmente lançou seu tão aguardado álbum de estreia! Conversamos com o Bruno Martini sobre o processo de criação do Original, a influência de Timbaland em seu trabalho, processo de composição e até sobre o convite de fazer o remix oficial de "911", de Lady Gaga

Confira a entrevista na íntegra:

KT: Antes do álbum você lançava músicas soltas, singles. Por que que você teve a estratégia de lançar single e juntar tudo em um álbum? E por quê agora?

Bruno Martini: Eu sempre acreditei que o álbum é um marco na carreira. Todos os artistas que me influenciaram desde pequeno foram artistas que tiveram álbuns. Então, sempre achei importantíssimo contar sua história e traduzir os seus pensamentos, através de letras e de sons, mas que não seja apenas uma música e sim que você é consiga fazer uma história a partir de um álbum. Eu sempre comprei CD, vinil, então para mim o álbum começava não só pelas músicas, mas a partir do encarte e da arte que é feita a capa, no conceito, ler as letras...  Esse sempre foi um sonho meu.

Lançar o álbum agora envolve uma questão de também de amadurecimento. Eu venho de uma carreira de 8 anos trabalhando na Disney, dos 16 aos 24 anos. Saí de lá e fui tentar minha carreira solo. Não lancei direto um álbum solo porque foi mais um período de autodescobrimento. Todos os projetos que eu tinha feito até então sempre eram muito envolvidos com a Disney. Como eu era muito novo, acabei fazendo coisas mas ainda meio perdido, sem saber direito o que estava fazendo. Foi um tempo de amadurecimento pessoal e profissional da fase pós-Disney para eu me conhecer, saber quem eu sou, saber o que eu gosto de fazer. Durante esse período eu preferi lançar singles e parceiras para ir me conhecendo, desenvolvendo meu som, ter experiência, melhorar meu show e evoluir em alguns aspectos. Sou muito abençoado de nesse caminho várias parcerias terem sido bem-sucedidas, desde meu primeiro single, que foi “Hear Me Now”. Viajei o mundo três vezes discotecando. Enfim, tudo isso fez parte de aprendizado. Entrei no estúdio trabalhei com os maiores artistas do mundo, vários deles brasileiros. Então, realmente, para eu lançar meu álbum, mesmo com esse desejo desde sempre, eu sentia que eu tinha que estar numa fase preparada para isso e mentalmente com o projeto certo para que eu não desse um tiro no meu pé ou faça algo que depois de um anos eu vá me arrepender de ter feito.


KT: Sobre a sua fase da Disney, você trouxe muito dela para sua carreira solo. Prova disso é que de 17 músicas do Original, a Mayra canta quatro. Como que você avalia isso? Vocês dois construíram uma carreira paralela juntos, e querendo ou não, seu trabalho ainda dialoga muito com o dela.

Bruno Martini: A Mayra é minha irmã desde que eu tenho 13 anos de idade. Ela é uma pessoa praticamente da família. Já passamos por todo tipo de momentos juntos. Ela sabe de todos os meus traumas e momentos felizes da minha vida, e vice-versa. Se eu fosse fazer um álbum que diz respeito a mim, ela tinha que participar. A Mayra passou por todas essas fases da minha vida. 90% do álbum foi escrito entre mim e ela. “Bend The Knee”, “Ain’t Worried”, “Original”, todas essas têm o dedo da Mayra. Ela, sabendo dos meus traumas, fraquezas, conseguiu, comigo, colocar isso tudo no papel em forma de melodia, de letra e de sonoridade. Por isso não tinha ninguém melhor para participar desse projeto.

KT: Não precisa de muito para perceber que o Original é muito diverso. O que todas as músicas que estão no Original têm e comum e por esse motivo faz com que elas estejam no mesmo álbum?

Bruno Martini: Todas estão relacionadas comigo. Fui eu quem escrevi, produzi, então de alguma forma elas me tocam e fazem sentido para mim. Tem música que é um pouco mais rock, tem música um pouco mais R&B, outras que são um eletrônico que sai um pouco da pista, muito mais cantando. Tudo do álbum remete de alguma forma na minha vida. É por isso que o álbum leva o nome de Original. Original é ser você mesmo, sem tentar fazer algo que outras pessoas já fazem, sem se perder no caminho ao longo do tempo. 

Não dava para fazer um álbum diferente do Original porque meu dia-a-dia é assim. Eu acordo escutando blues, passo do dia no rock e vou dormir ouvindo eletrônico. Tanto que não só da época da Disney veio a Mayra, mas veio também o Johnny Franco, que gravou série comigo, hoje é um grande amigo, já escreveu várias músicas comigo. Eu trouxe artistas que dialogam comigo e tem a ver com a minha história. No fim, a maior conexão das músicas é isso: a sonoridade tem muto a ver com quem eu sou, todas as músicas se relacionam comigo de alguma forma.


KT: Falando em originalidade, um dos seus convidados é uma das figuras mais originais do mundo da música, que é o Timbaland. Como que ele foi parar em três músicas do Original?

Bruno Martini: Foi muito louco. Há 10 anos atrás, quando eu estava na escola, eu já ficava procurando referências para produzir quando ia para o estúdio com meu pai, e logo o tipo de música que me tocou primeiro foi o rock, mas logo depois descobri o hip hop e o R&B. Com isso, passei a ouvir o Timbaland. Ele é referência para mim desde o início. Dizem que você tem um apego emocional a determinada fase da sua vida, e eu acho que a minha fase era essa em que eu ouvia as músicas dele. O Timbaland revolucionou a música e virou meu ídolo. Eu cheguei a fazer um clipe na Disney em homenagem a ele, mas o sonho de trabalhar com ele sempre ficou.

Depois de um tempo, eu fiz um show no EDC, em Las Vegas, e quando terminei de tocar, meu empresário me disse que tinha recebido um e-mail do time do Timbeland, porque ele queria ouvir mais minhas músicas. Ele tinha se apaixonado em “Living On The Outside”. Até achei estranho, porque “Hear Me Now” estava mais em alta no mundo inteiro, e em “Living On the Outside” sou eu cantando. Quase nem acreditei quando ouvi isso. Preparei o link com algumas músicas e enviei para ele. Logo depois ele me convidou para nos encontrarmos em Los Angeles. No fim, o que era para durar um dia acabou virando 10 dias trabalhando com ele no estúdio, tomando vinho com a família dele. Nesses dias eu aprendi demais com ele. Timbaland é apaixonado por música e ficamos no estúdio produzindo sem parar. Sinceramente, ele nem precisava estar comigo lá. Já é super consagrado. Mesmo assim, ele sempre deixou claro que ele estava lá para aprender como eu fazia as coisas. Foi uma troca de experiências e energia muito louca. E, com isso, voltei para o Brasil com 7 músicas que fizemos juntos, inclusive “Bend The Knee”. A partir disso eu passei a desenhar o Original, levando um processo de uns dois anos e meio.

KT: Por falar em grandes nomes internacionais, você foi convidado para fazer o remix de “911”, da Lady Gaga. Como que rolou esse convite? Foi algo esperado?

Bruno Martini: Claramente eu não esperava! Foi um negócio muito louco! A Lady Gaga é uma artista que quando eu tinha uns 15, 16 anos, era referência, inclusive até hoje é uma artista que está muito em alta! Quando surgiu o pedido da Lady Gaga para eu fazer o remix da “911” eu achei que era um e-mail falso. Pensei “óbvio que eu faço”, mas nem comemorei porque pensei que alguém estivesse passando um trote para mim de tão surreal que era a oportunidade. Fiz uma versão mais pista, mais animada, mandei o e-mail para ela, e logo depois ela aprovou e falou que ia lançar. Fiquei muito feliz com o resultado, sem contar a experiência incrível de poder trabalhar com ela, nunca que eu imaginava de ter essa oportunidade.


KT: “Ain’t Worried” foi o single escolhido para acompanhar o lançamento do álbum. O que tem a nos falar sobre o clipe com a Luísa Sonza e a Diarra Sylla?

Bruno Martini: A história desse clipe é muito louca, sem contar que é o clipe mais bonito que eu já fiz. Tanto a Luísa quanto a Diarra representaram muito no videoclipe. Foi um desafio até para os artistas que participaram do álbum sair um pouco da zona de conforto e se arriscaram em fazer coisas diferentes. “Ain’t Worried”, por si já é algo um pouco diferente do que elas fazem no dia-a-dia delas. Isso é muito bonito de ver, quando outros artistas compram sua ideia e arriscam num projeto nunca feito antes. O clipe não seria diferente. De produto final, a Luísa tá linda, a Diarra tá maravilhosa, tudo encaixou. O mais louco foi gravar o clipe, porque a Diarra tava em Los Angeles, então demorou uns dois, três meses de gravação para chegar num resultado muito bacana.

KT: Como você falou, a Iza e a Luísa encararam se aventurar no seu projeto, mesmo sendo algo diferente para elas. Mas e o contrário? Os intérpretes também influenciam nas suas músicas?

Bruno Martini: Totalmente! Uma coisa que eu aprendi desde cedo é que o vocal é mais que essencial numa música. Se ele não estiver certo, se perde 98% da música. O papel do produtor é tirar o melhor do artista. Ás vezes tem músicas que não precisam de uma super produção por isso, como é o caso de “Skin” ou "Backroom Door”. Não é questão do cantor ser melhor ou pior, mas sim da música. Tem músicas que a gente tem que simplesmente deixar o cantor cantar. Ás vezes o menos é mais e o cantor entrega o brilho para a música.

É muito difícil que uma música estoure só por causa da parte vocal. O conjunto é que faz aquilo dar certo, e cada vez mais a as pessoas estão valorizando o trabalho do produtor. Eu que gravei todos os vocais do Original porque eu sei o que eu quero ouvir e gosto de ter esse momento com os intérpretes. Eu, por exemplo, que não costumo cantar, sei que numa música como “Living On the Outside” a minha voz encaixa bem, e a música funciona. Muito vem do autodescobrimento que o intérprete tem, em saber o que ele faz, o timbre de voz dele, e aí saber o que cantar. Por exemplo, não se escuta o Justin Timberlake cantando um heavy metal. É bem por aí.

KT: Por fim, qual acabou sendo sua música favorita do Original?

Bruno Martini: É muito difícil escolher porque todas as músicas têm algum significado para mim e me levam para lugares diferentes. Depende muito do mood que eu ‘tô. Em questão musical, acho eu diria que “Skin” e “Badroom Door” são músicas que me arrepiam. Hoje mesmo eu estava ouvindo “Backroom Door” no meu carro e comecei a chorar. Para mim, aquilo é música. Eu gravei quase todos os instrumentos, meu pai que fez o solo de guitarra no final, então o significado dela é muito forte. Mas é obvio que todas elas são especiais, senão elas não estariam no Original. Eu demorei tanto tempo para fazer esse álbum que todas elas tinham que fazer sentido. Mas é claro eu deixo para cada um escolher sua preferida.

O clipe icônico de "Ain't Worried", em parceria com Luísa Sonza e Diarra Sylla foi lançando junto com o álbum Original. Não deixe de ver o resultado final dessa parceria incrível: 


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