Mesmo sendo pouco objetivo, "Notes On A Conditional Form" é um marco de maturidade artística para o The 1975

Finalmente, temos entre nós o tão esperado álbum do The 1975, o Notes On A Conditional Form. Seguindo o disco A Brief Inquiry Into Online Relationships, a banda conclui a era intitulada Music For Cars como um verdadeiro exemplo de experimentalismo criativo e aprofundamento subjetivo, fazendo deste trabalho o mais ambicioso da banda de toda a carreira.

Reverberando temas associados à tecnologia, esperança, amor e ansiedade, o grupo britânico faz alusão à modernidade violenta e tão intensa que vivemos hoje, assim como seus respectivos reflexos, inerentes na vida de Matty Healy, vocalista da banda. A obra traz uma sensibilidade extremamente pessoal e transparente que engrandecem anseios, reflexões e valores de toda uma geração, sejam eles na rebeldia emergencial de “People”, na dependência amorosa de “Then Because She Goes” ou nos infinitos questionamentos que assombram e ecoam na intimista “Playing On My Mind”.


Com 22 faixas, o Notes On A Conditional Form está longe de ser um álbum coeso e objetivo. Temos, sim, algumas faixas descartáveis ao longo do caminho, porém este é certamente o lançamento mais despretencioso e introspectivo do The 1975. Fica evidente a confiança artística do grupo para lançar músicas que realmente pareciam certas para eles e falar de temas sem nenhum filtro, elevando mais uma vez seu nível lírico de forma muito sagaz. É uma maturidade admirável que jamais encontraríamos nos primeiros trabalhos da banda.

Além disso, com este mesmo espírito libertador e aventureiro, o quarteto se permitiu arriscar em novos sons. Me refiro aqui ao Dance Pop eletrônico e frenético muito presente no álbum, principalmente em faixas como “Yeah I Know”, “I Think There’s Something You Should Know” “Frail State of Mind”. Esta última sendo uma das melhores do álbum. Destaques de experimentações ficam também por conta do punk rock de “People”, do country rock animado de “Roadkill” e do jazz pop dançante de  “Tonight (I Wish I Was Your Boy)”.


Mas se você é do tipo fã conservador, não se preocupe. De alguma forma, todas as faixas ainda tem um pouquinho de gostinho do The 1975 lá do começo da carreira. Algumas, inclusive, projetam perfeitamente essas raízes da banda, como é o caso da lúdica “The Birthday Party” e da animada “Me & You Together Song”.

Os melhores momentos, porém, acontecem quando somos transportados para o cérebro de Matty Healy em uma noite de vinho e questionamentos. É aí que vem a deslumbrante “Jesus Christ 2005 God Bless America”, uma delicada confissão que paira entre dúvidas seculares, amor LGBT e devoção religiosa. Outro grande tesouro é  “Nothing Revealed / Everything Denied”, que apresenta uma linha parecida com "If I Believe You". Acompanhada por uma linda melodia de piano tocado por George, a faixa é um hip hop lo-fi com essência neo-soul e discute sobre o impasse entre verdade e mentira que forma a responsabilidade de uma pessoa pública. É uma composição poética e muito esclarecedora.


Um grande ponto alto do álbum também é a presença de convidados super especiais. FKA Twigs aparece nas faixas “What Should I Say” e “If You’re Too Shy (Let Me Know)”. Phoebe Bridgers dá um toque adicional com sua doce presença em “Jesus Christ 2005 God Bless America”. O músico jamaicano Cutty Ranks comanda a faixa inusitada “Shiny Collarbone”. E, por fim, temos ao fim Timothy Healy, o pai de Matty, em um momento de pura emoção com “Don’t Worry”.

Esta última foi escrita pelo próprio Timothy Healy enquanto Matty ainda era criança: "Don’t Worry foi uma das primeiras música que eu ouvi na vida, eu acho. Em 1989, 1990, nosso pai estava em uma banda e ele tinha uma música que ele escreveu para minha mãe sobre a depressão pós-natal dela. É uma música que lembro do meu pai tocando no piano. Olhando para trás, da maneira que [este álbum] é sobre mim, minha família e minha vida, parecia certo [fazer uma versão da música]. Foi escrita há 30 anos e sou eu e meu pai cantando - esse foi um momento realmente especial.", revelou Matty.

Por fim, Notes On A Conditional Form encerra sua narrativa perfeitamente com “Guys”. A canção é uma bela homenagem a todos os anos que os integrantes passaram juntos desde o começo da banda. Assim como a anterior, é uma faixa que recomendamos lencinhos extras. Com suas melodias solares e doces, ela nos traz um sentimento de nostalgia, mas finaliza este capítulo do grupo nos deixando orgulhosos de toda sua trajetória até chegar neste novo trunfo de confiança e inovação musical. Mal podemos esperar para que o mundo volte ao normal para poder ver tamanha genialidade ganhando forma nos palcos do mundo afora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário