The Lumineers apresenta folk rock carregado de sentimento em novo álbum


Depois do sucesso do primeiro álbum, The Lumineers está de volta com um material bem mais poético e profundo do que o primeiro. Melodicamente, Cleopatra percorre um caminho bem mais melancólico do que o som da banda em seus anos dourados de “Ho Hey”.


O álbum de estreia da banda era rico em músicas românticas, com melodias doces de se estralar os dedos e bater os pés. Nesse segundo álbum, porém, tem músicas de sobra para sua playlist da “depressão da madrugada”. A percussão folk pop animadinha do The Lumineers, com qual já estávamos acostumados, está quase extinta em Cleopatra, mas não reclamo, de forma alguma. Independente da divergência dos dois álbuns, essa nova dimensão dramática também funciona para a banda, os levando para um patamar bem mais sério e reflexivo. É apenas mais um outro lado interessante do grupo que fico feliz em conhecer.

No geral, as músicas do Cleopatra são mais quietas, mas ao mesmo tempo, bem inquietantes. É como se cada letra tivesse uma história individual, causando a identificação com quem a ouve. Se torna quase impossível não sentir as músicas ecoarem na alma, com a rouquidão de Wesley Schultz e as letras tão contemplativas. São todos esses elementos que, com uma simplicidade tão bem trabalhada, garantem que este álbum seja memorável.


“Sleep On The Floor”: A letra já trata de um convite para uma viagem longe daquele lugar. E é exatamente isso que a música faz com a gente, nos distanciando de qualquer distração. Toda a construção da guitarra e a voz viva do vocalista faz com que a faixa seja uma das mais consistentes do álbum.

“Ophelia”: Desde a primeira vez que ouvi à essa música, fui contagiado pelo piano acelerado dela entre os versos, assim como a letra inspirada por Hamlet de Shakespeare. Além disso, a música é a que mais se parece com o estilo do primeiro álbum da banda, devido ao ritmo alegre e vibrante. Foi uma escolha sensacional para o single de estreia do álbum.

“Cleopatra”: Novamente, uma música que lembra o primeiro álbum deles. Apesar da letra razoavelmente triste, o storytelling e a percussão dão um toque especial à música, a deixando mais emocionante a cada minuto que passa.

“Gun Song”: Além da composição lírica impecável da música, o grande destaque é o crescendo da percussão, que dá um aspecto quase de um sonho em certos momentos, principalmente após o “1, 2, 3, 4” (2:35), reparem!

“Angela”: A letra poética grita aqui como nunca antes. Porém, além disso não há nada de tão especial. E, por incrível que pareça, isso não é uma crítica negativa. The Lumineers é minimalista propositalmente em muitos de seus instrumentais, principalmente neste álbum. Existem letras que devem ser ouvidas por si só, portanto encher de percussão não é a melhor coisa a se fazer. E aqui, a melodia favorece e destaca cada elemento melodramático e comovente da história da tão falada Angela.

“In The Light”: A faixa inaugura a segunda metade do álbum, que é bem mais down tempo e mais densa do que a primeira. Provavelmente, é uma das músicas mais pessoais e vulneráveis. Com sua temática sobre os caos modernos, “In The Light” consegue trazer qualquer um para dentro da música, devido ao abrangente poder de identificação que ela contém. Além disso, o piano, com sua sonoridade clássica, dá um ar completamente único para a composição.

“Gale Song”: A música foi gravada e pensada exclusivamente para o personagem Gale de Jogos Vorazes, tanto é que se encontra na trilha sonora de um dos filmes. Tomando a perspectiva de Gale, a música produz uma intensa solidão, que se intensifica com monotonia da música. Não sei porque decidiram colocar a faixa no álbum, mas ainda assim, acredito que poderiam ter trabalhado um pouquinho mais na produção para fazer de “Gale Song” uma canção emocionante, com grandes explosões ao final.

“Long Way From Home”: Sim, a música é parada. Mas diferente de “Gale Song”, esta consegue ser mantida devido à grande capacidade de interpretação do vocalista, que expõe seus melhores alcances vocais para expressar uma das letras mais pesadas do álbum. Além disso, a guitarra e os outros instrumentos permanecem de forma notável durante toda música, o que não ocorre na anterior.

“Sick In The Head”: Em um clima misterioso, quase de despedida, a faixa é definitivamente muito profunda, misteriosa e um pouco obscura. Eu diria que é o começo do final do disco, para se intensificar na próxima faixa, culminando na última do álbum.

“My Eyes”: A guitarra produzindo um som derivado do blues, junta ao soul da voz de Wesley Schultz, produz um término quase angelical para o álbum. Definitivamente, a música está no meu top 3, junto com “Ophelia” e “Cleopatra”. A canção termina em “Patience”, o instrumental delicado que encerra o disco de modo clássico e singelo, nos permitindo à reflexão e contemplação do material por completo.



Cleopatra é um álbum para se admirar, proporcionando quase uma experiência mística. The Lumineers convida todos para a vida de cada personagem, nos causando empatia com cada letra escrita. A abstração do álbum trata de assuntos pesados, porém sempre de forma criativa. É tanto envolvimento contido nesse material que, ao acabar, sentimos um vazio imenso, nos dando vontade de abusar do replay sem parar. 

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