Halsey
faz releitura do clássico de William Shakespeare, Romeu e Julieta,
para retratar o amor na pós modernidade em seu novo álbum, Hopeless
Fountain Kingdom, o segundo da carreira da cantora.
Mesmo
já ter tio um leve toque de experiência com um álbum conceito em seu primeiro
trabalho, Halsey foi mais a fundo em Hopeless Fountain Kingdom,
trazendo uma história inspirada na essência de Romeu e Julieta, só
que numa pegada bem mais atual. O disco passa em volta da personagem de Halsey
e sua dificuldade em criar laços amorosos no meio de um reino tão conflituoso e
de pessoas fechadas em suas próprias bolhas de ideais. Através de sua atmosfera
reflexiva e sincera, Halsey exala determinação, sensualidade e autoconfiança em
alguns momentos, mas sem deixar de lado, é claro, seus momentos mais complexos
que aparece em letras que transmitem maior vulnerabilidade e fragilidade da
cantora.
No
geral, este álbum consegue se sair bem, porém a consistência sonora do primeiro
disco, Badlands, ainda é imbatível. Hopeless Fountain Kingdom não consegue
se apegar numa constante sonora por muito tempo, caindo muitas vezes numa
contradição um pouco discrepante. A tentativa de ingressar no R&B, porém
fazendo isso de forma incompleta, ainda mantendo um pé no synthpop alternativo,
fez com que o álbum tivesse sua musicalidade flácida, sem conseguir encaixar e
se fixar num som seguro. Claro que há momentos grandiosos em que o violino e o
piano constroem um ambiente completamente diferente, porém a percussão deixa,
na maioria das vezes, muito a desejar. Se Halsey quisesse ingressar no R&B,
eu aconselharia aderir mais aos instrumentos orgânicos. Apesar dessa falha,
todavia, como eu havia apontado, o grande destaque do álbum está na storyline e
essa sim merece ser valorizada.
Percebe-se
a inspiração do álbum vinda de Romeu e Julieta logo no começo,
tendo o mesmo prólogo que a peça teatral. “The Prologue” introduz a história do
seu reino conflituoso e caótico em que vivem Luna Aureum - personagem de Halsey
-, que representa Romeu e Solis Angelus, que representa Julieta. Segundo a
antiga religião e mitologia romana, Luna é a personificação divina da lua, e
essa analogia só enriquece o álbum, porque assim como a lua, Halsey/Luna
demonstra ter diversas fases durante e depois de um relacionamento, passando
por transições bruscas de sofrimento e ternura para um estado de
autoconhecimento e confiança. E como se não fosse suficiente, mais um elemento
para deixar a história mais complexa: Solis é o complemento da lua, assim como
se fosse o sol, porém não deixa de ser o oposto da mesma. As diversas fases e a
influência disso no conflito entre Luna e Solis ficam muito evidentes ao
decorrer da história, tornando o álbum muito interessante para uma análise
reflexiva.
Logo
no começo, através de batidas bem marcantes em “100 Letters”, Halsey conta a
história de Luna com Solis que, por mais que os dois tentassem de tudo, seguiu
um caminho tóxico e trágico, levando a um término de que Luna não consegue
esquecer. “Eyes Closed”, com uma sonoridade bem The Weeknd - um dos
compositores da faixa -, abre alas para a entrada do R&B no álbum e ainda
funciona como lembrança dos vestígios da relação entre Luna e Solis enquanto
ela está com outro parceiro. Halsey expressa toda a amargura deste amor através
do ritmo e melodia da música. É maravilhoso como a musicalidade por si só consegue
pintar um ambiente semelhante ao lírico somente com a atmosfera sonora.
“Heaven
In Hiding” e “Alone” seguem a história da personagem de Luna, agora numa festa
que está fazendo em sua casa, assim como o baile de máscaras que acontece em Romeu e Julieta, e assim como na peça, há uma
aproximação amorosa um tanto quanto ardente nessa parte de Hopeless Fountain
Kingdom. Através de um ritmo mais refinado derivado do R&B à la
Rihanna, “Alone” traz a perspectiva de Luna da festa, tendo a revelação da
solidão sentida pela incapacidade de preencher o vazio que Solis deixou. Isso
porém muda em “Heaven In Hiding”, que traz a perspectiva da festa de uma nova
personagem: Rosalina - vivida futuramente por Lauren Jauregui em “Strangers”.
Essa faixa possui uma tensão bem forte para o álbum, construída a partir de um
envolvimento amoroso entre Rosalina e Luna. A temática bissexual é conduzida
pela rouquidão de Halsey de forma selvagem e cheia de determinação,
mostrando-se indomável ao se entregar para um amor proibido e massacrado
socialmente. Assim, conhecendo um paraíso que estava escondido por tanto tempo
pelo medo, Luna sai da solidão para se envolver com Rosalina. A letra é
extremamente forte, assim como o próprio instrumental que, conduzido por uma
percussão selvagem, faz de “Heaven In Hiding” uma das melhores faixas do álbum.
A música é maravilhosamente arisca e libertadora!
Indo
adiante, Luna se encontra completamente sozinha refletindo sobre toda sua
frouxidão e liquidez amorosa, que a afasta dos ideais de um relacionamento
saudável e estável e faz seu último apelo por Solis em "Now Or Never", o carro chefe do álbum que causou bastante estranhamento com a experimentação de R&B e trap. Em contraponto, o piano frágil de “Sorry” abre espaço para Halsey se abrir
por completo em uma esfera jamais explorada pela cantora em sua carreira. A
música reflete o lado mais introspectivo de Luna e até da própria Halsey, já
que a mesma sofre de transtorno bipolar, que dá vida às diferentes fases
conflituosas de Luna. Percebe-se isso em “Good Morning”, com a seguinte
frase: "Don’t trust the moon, she’s always changing”. Essa angústia e
desamparo se concretiza em letras como “Sorry that I can’t believe that anybody
ever really starts to fall in love with me”. A música exala sinceridade e é possível
sentir cada palavra que a cantora canta. A sensibilidade da música é o grande
clímax de Hopeless Fountain Kingdom.
Após
este momento frágil de Luna, temos uma evolução enorme da personagem desde
“Good Mourning” até “Don’t Play”. Com narração de seu irmão de 12 anos, “Good
Mourning” conduz um pouco de inocência e esperança para a storyline. Mesmo que
em um tom obscuro, a voz de Halsey ecoando por toda a parte em “Lies” é
responsável por começar a cessar o sofrimento construído na primeira metade do
disco. A confiança e auto aceitação começa a ser construída nas percussões
oldschool meets Britney Spears de “Walls Could Talk”, se concretizando com Halsey
soltando a voz em “Bad At Love” de forma confiante e, por fim, tem seu ápice em
“Don’t Play”, em que Halsey solta até um “motherfucking, don’t play with me”
dando entender até uma possível superação de Luna perante a Solis, o que é um
grande marco para a evolução da personagem.
“Strangers”
abre alas para uma Luna mais confiante, que acaba reatando seu envolvimento
amoroso que viveu com Rosalina em “Heaven In Hiding”. A personagem de Rosalina,
vivida por Lauren Jauregui, está se sentindo insegura e com medo de que as
pessoas descubram sobre o relacionamento das duas, devido aos maus olhares que
receberiam, e para isso ela se isola e corta os seus laços com Luna. A música
descreve como a relação delas se restringe ao afeto corporal, não chegando ao amor
de fato, e é por isso que a relação foi esfriando. A musicalidade de
“Strangers” é algo para ficar alerta, porque é sem dúvidas uma das mais coesas
do álbum e ela está definitivamente entre as melhores músicas pop lançadas
neste ano, sem contar que o timbre de Lauren Jauregui se encontra com o de
Halsey de maneira magnífica.
Muitos
acreditam que apesar de tudo, Luna e Rosalina ficam juntas, porém “Angel On
Fire” e “Devil In Me” fazem alusão a uma suposta nova decepção de Luna. As
músicas são muito fortes, expondo lados de combustão da face mais genuína de
Luna, através de melodias ácidas, seguidas de batidas persistentes e nebulosas
que colocam em evidência o medo da personagem de se render à sua personalidade
mais sombria novamente. Devo deixar uma observação muito importante sobre a
execução de “Devil In Me”: Halsey está de parabéns por ser uma das poucas
artistas que conseguem interpretar ainda com originalidade uma composição de
Sia. A música se conectou perfeitamente com a cantora e o resto da storyline.
Após sofrer
bastante com seu histórico de amor nômade, sozinha novamente, Luna encerra
o Hopeless Fountain Kingdom com “Hopeless”, de forma fúnebre e
dolorosa, concluindo toda a história com os “Oh” distorcidos e desnivelados de
Halsey e o impacto final da frase “I hope hopeless changes over time”.
Ainda há
incertezas sobre a experimentação de Halsey com o R&B e Trap Pop - se a
cantora vai permanecer com os gêneros ou não - mas há algo para ser destacado
perante a atitude dela: a ambição e a coragem por se arriscar e mergulhar em
novas águas. Talvez há um jeito de amarrar tudo numa linearidade mais coesa no
próximo álbum, porém é impossível se deixar levar pelos aspectos negativos do
álbum, uma vez que Hopeless Fountain Kingdom trabalha o conceito de
um jeito muito rico e complexo. Halsey tem a faca e o queijo nas mãos para
fazer dessa era se igualar com a do Badlands, ou até superar. Tudo
depende agora de sua habilidade artística e teatral para incorporar a história
por completo nessa nova era, assim como Lady Gaga e Marina and The Diamonds
fazem muito bem. O conceito do álbum deve dar o brilho que a cantora tanto merece.
amei muito
ResponderExcluirAaah!! Fico bem feliz <3
Excluirtudo exatamente como eu tava pensando.
ResponderExcluirAham!! Conceito complexo pra desenrolar, mas quando descobrimos é um mindblown maravilhoso, hahahaha.
Excluirmuito bom!!!! mas em strangers, halsey não tinha nada escondido dentro dela, e nem está muito feliz, pois também o romance não acaba dando muito certo porque LAUREN que não quer se aceitar e nem aceitar esse amor, mas as duas se apaixonam.
ResponderExcluirisso tudo aconteceu de verdade na vida da halsey. ela só se inspirou em romeu e julieta porque as duas histórias são parecidas.
nossa eu li de novo a matéria, foi mal
ExcluirHahaha sem problemas, o conceito do álbum é acompanhado de uma série de reviravoltas! Às vezes, a gente se perde por completo! Abs.
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