Será que o “Double Dutchess”, da Fergie, faz jus ao seu antecessor?


Depois de mais de uma década, Fergie lança o seu segundo disco, que serve como continuação do seu debute de sucesso, Dutchess. A questão é: será que o novo disco é tão bom quanto o pimeiro?

Fergie sempre foi a princesinha do hip hop/pop com o Black Eyed Peas. Mas foi somente em 2006, com toda a repercussão positiva do Monkey Business do Black Eyed Peas, que ela foi tentar carreira solo com o seu primeiro álbum, Dutchess. E, supreendentemente – ou não – ele atacou os charts pop mundo afora, com grandes hits que logo caíram na boca de todos, como “Fergalicious”, “London Bridge” e “Big Girls Don’t Cry”. Agora, mais de uma década depois, Fergie está de volta com a tentativa de emplacar o sucessor do Dutchess nas paradas, o álbum visual Double Dutchess.

Muitos anos se passaram, mas como a própria cantora afirma em “Hungry”, a faixa de abertura do álbum, ela ainda está ambiciosa e com muita fome pelo sucesso. E realmente, a música abre o disco com batidas assombrosas, introduzindo a pegada feroz de “femme fatale” que esse álbum possui. Não podemos negar que Fergie cativa a atenção só com o seu olhar e personalidade cheia de atitude, e isso é bem perceptível no conteúdo visual do disco. Mas isso não exclui o fato de que tudo poderia ter sido executado de forma diferente, com uma produção mais interessante, menos mecânica e letras menos cafonas – mas isso até tudo bem, porque acredito que o conteúdo lírico nunca foi o forte da cantora.


O que aconteceu neste álbum, eu acredito, foi que ela quis quis incorporar um pouco da sua vibe antiga, só que de uma forma atualizada, aderindo ao abuso de sintetizadores sem dó. Definitivamente, é compreensível, afinal abusar de sintetizadores em discos é a nova moda e como todos já sabem, é isso que toca nas radios, então eu não duvido que algumas dessas músicas consigam de alguma fora virar hit, não no mesmo nível que os singles da primeira era, é claro. No geral, a produção foi tão exaerada que eu senti falta de perceber a alma da cantora nas faixas. E claro, que ela ainda possui aquela essência hip hop old-school pela qual nos apaixonamos de cara no Dutchess, e isso é perceptível nas exuberantes “You Already Know”, “Like It Ain’t Nuttin’”, “L.A. Love (La La)” e “M.I.L.F. $”, mas é inegável que nenhuma dessas chega ao nível de “London Bridge” e que essa nova experimentação com o EDM foi um pouco longe demais.  Mas eu não vou ser aquele chatão que só vai encarar o disco com um olhar negativo, pois Double Dutchess vai ficando melhor com o tempo.


As faixas seguintes trazem uma pegada mais suave de Fergie, dando um maior destaque aos seus grandes atributos: a sua performance vocal e o seu tom refrescante raríssimo no mercado. “Just Like You” ganha destaque no álbum com batidas mais amargas e vocais melódicos bem viciantes. E são nos momentos intimistas em que Fergie mais brilha, e isso é comprovado em “A Little Work”, onde Fergie parece se desprender um pouco das batidas mecânicas para deixar tudo fluir naturalmente. São faixas como essas que trazem esperança ao álbum de um jeito bem inspirador. A deliciosa “Life Goes On” fica responsável por mostrar que dá sim para fazer coisas incríveis ao experimentar com o EDM de forma adequada. A faixa traz uma brisa fresca ao álbum. E a performance vocal chega em seu ápice na emocionante acústica “Save It Till Morning”, que funciona como uma “Big Girls Don’t Cry” returbinada e não falha em quebrar nossos corações.


As “farofas” ficaram para o começo do álbum em sua maioria, enquanto as faixas pop mais bem trabalhadas ficaram para o final, como a sensual e descontraída “Enchanté”, que possui uma das melhores produções do disco, e “Tension”, que traz uma vibe retrô bem delicada e burlesqe, no estilo das Pussycat Dolls, apresentando um baixo que nos embala num groove delicioso.

E, para encerrar o Double Dutchess, temos uma pitada surpreendente de reggae com a maravilhosa “Love Is Blind”. Os vocais de Fergie realmente brilham nesse gênero. Aliás, quem lembra da destruidora “Mary Jane Shoes”? Talvez o Reggae seja uma direção ótima para o próximo álbum, quem sabe, né?  E, por fim, “Love Is Pain” QUASE terminou a tracklist de um jeito épico, afinal a música tem um potencial de vulnerabilidade fora do comum, mas o refrão ficou um pouco estranho e frouxo. É de se esperar que a música tenha alguma explosão em certo momento, mas ela nunca acontece. De qualquer forma, o Double Dutchess tem um encerramento com uma performance vocal admirável e contagiante, assim como um instrumental simples e genuíno.  

No geral, Fergie entregou um álbum de qualidade ambígua, e até com um posicinamento que falta coesão. Ela quer brilhar, como fez em seu primeiro álbum, mas em muitas faixas não consegue por conta da produção exagerada, fazendo com que Double Dutchess pareça forçado em muitas vezes. Todavia, há alguns momentos de pureza autêntica, que traz toda a alma da cantora novamente ao jogo, mas claro que não supera o seu debute. O que nos resta é passar uma peneira no álbum e esperar que ela mostre esse VOZEIRÃO e todo o soul que ele tem para o seu próximo trabalho. E não demora muito pra lançar, tá Fergie? A gente sente saudade!

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