Jain impressiona com a criatividade autêntica e multicultural de “Souldier”

Após o seu impressionante debute, Makeba, a francesa Jain retorna com seu segundo disco, intitulado Souldier. Mais uma vez, a cantora reuniu grandes influências, de forma inusitada e maravilhosamente expressiva, em um trabalho que parece um verdadeiro diário que resume sua trajetória e os seus últimos anos de estrada. Ela soube nos contagiar, faixa a faixa, com seu som bem humorado!

Para quem não sabe, Jain é uma das maiores artistas da França atualmente. Quando jovem, ela morou bons anos na África junto aos seus pais, o que tornou seu lado artístico ainda mais rico e multicultural. Desde seu grande debute, Makeba, Jain vem impressionando mundo afora com suas músicas que trazem referências e inspirações inusitadas, que giram em torno do flow de Kendrick Lamar, da suavidade de Tito Puente, da elegância de Fairuz e das melodias de Bob Marley. 

É uma grande salada de fruta que refresca o coração de qualquer um. Não é à toa que o disco de estreia foi certificado platina tripla e rendeu à Jain o título de “Melhor Cantora em 2017” no Victoire de La Musique (premiação equivalente ao Grammy na França). Agora o mesmo sucesso deve se repetir com Souldier, o seu mais novo LP.

Se apresentando em mais de 200 shows pelo mundo, Jain se tornou uma das maiores artistas francesas a cruzar o atlântico e foi assim que nasceu Souldier, um álbum escrito na estrada que traz diversas inspirações de diversos países. Com uma classe e musicalidade sem igual, a alma da artista floresce junto a uma ampla mistura de instrumentos e letras poéticas bem boladas que abordam temas atemporais.

Abrindo o álbum em grande estilo, Jain flerta com uma percussão pulsante, quase tribal, em “On My Way”, em que a cantora já reergue seu legado com muita atitude, estilo e autenticidade. Já em “Flash (Pointe-Noire)”, a personalidade forte de Jain continua, porém dessa vez em uma fluidez pop teatral inusitada. É uma canção rica, charmosa, exuberante, do tipo que somente a francesa conseguiria fazer. Assim, também continuamos com o flutuante carro-chefe “Alright”, que traz uma temática empoderadora pós-término junto a uma vibe rítmica de reggae que é o puro sinônimo de positividade. 


Pouco a pouco, já nos vemos inteiramente conectados com o universo plural de Jain. Alguns momentos do álbum nos fazem esquecer todos os problemas da vida, nos proporcionando uma pista de dança divertida e despretensiosa, como é o caso do clima tropical dançante de “Oh Man”; o pop criativo e assombroso envolvido em trap de “Inspecta”; e a adrenalina latejante de “Star”. Já por outro lado, a cantora não falha nem um pouco em nos emocionar com uma boa composição genuína e sincera, como visto na lúdica “Dream”, em que a cantora expressa seu lado mais sensível.


O trabalho de Jain é muito autêntico e verdadeiro do começo ao fim, não só por seu som fluído tão natural, como também pelo registro de sua história e crenças. Em “Abu Dhabi”, temos um grande exemplo disso. Na faixa, através de uma inteligente fusão de música árabe e rap, a francesa conta sobre seus dias que residiu na famosa capital dos Emirados Árabes Unidos, onde a cantora passou grande parte da sua juventude e formou sua identidade musical.

A cantora também passa belas mensagens, fazendo da sua música uma arte libertadora. A leveza de “Feel It” retrata isso muito bem, onde vemos a cantora se entregando de corpo e alma, junto a influências reggae que dão vida a um hino de amor e liberdade. 

Por fim, a mesma mensagem se repete na maravilhosa “Souldier”, que deu nome ao disco. A canção foi escrita como tributo ao ataque terrorista na boate gay Pulse, em Orlando, que matou por volta de 49 pessoas e deixou 53 outros feridos. De forma poética, a cantora faz um jogo de palavras com “soul” ("alma") e “soldier” ("soldado"), indicando a força de pessoas que lutam por amor dia a dia. Nessa bela canção, que flerta com jazz e reggae, Jain encerra o disco com uma mensagem iluminada de amor e libertação: “And we must now keep in our minds that love is always right / Yeah, we must now keep in our minds that love is a power we have”.


Mais uma vez, Jain provou ser uma artista incrivelmente única na indústria, nos encantando com seu pop criativo, multicultural e dinâmico. Com Souldier, a francesa conseguiu um álbum positivo e brilhante, que cai aos nossos ouvidos como um sopro de diversidade que mexe com os sentimentos de forma extremamente singular. Vestindo originalidade e flexibilidade do começo ao fim, Jain impressiona a entregar um álbum de alto padrão, que dispensa a fórmula saturada e previsível do pop atual.

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