Lady Gaga (re)nasce uma estrela em sua marcante estreia nos cinemas


Com A Star Is Born, Lady Gaga firma mais uma vez seu talento e seu poder artístico, que aparentemente vai muito mais além do que todos nós imaginávamos. 



Não há outro nome que tenha chegado no auge que Lady Gaga atingiu no final da década passada e início da atual, assim como dificilmente acharemos outro nome que tenha chegado a uma fase tão impopular como o excêntrico e atemporal ARTPOP - hoje, um grande queridinho dos fãs. Nos altos e baixos dessa carreira, ela passeou por todos os estilos musicais que pudessem encaixar sua voz única e singular, indo da era jazz aclamada com Tony Bennett aos tributos passionais e encantadores entregues a todos os seus ídolos ao longo dos anos.

Era difícil, portanto, prever qualquer passo seguinte de uma mulher que se resume fabulosamente ao imprevisível. Eis que, sendo mais astuta e esperta do que nunca, ela decidiu seguir os passos de uma das maiores artistas da história da música - e não, não estamos falando da Madonna desta vez. Barbra Streisand, que estrelou a terceira versão de “Nasce Uma Estrela” em 1976, também já havia desfrutado de milhões e milhões de álbuns vendidos, incontáveis prêmios e aclamação nunca antes sonhada. Foi com este filme, no entanto, que se firmou mais ainda como ícone musical, ganhando o Oscar e Grammy de “Melhor Canção Original” e “Canção do Ano”, respectivamente, por sua composição em “Evergreen”, canção-tema do filme.

Aqui, Lady Gaga anotou as tarefas de casa com maestria e conseguiu apagar toda e qualquer semelhança com as versões anteriores. Num compilado de 34 faixas que reúne 14 temas em sua voz, é como se tivéssemos recebido de presente um álbum inteiramente novo. É impossível julgar seus méritos como atriz tendo apenas ouvido o disco - e nem este é o foco desta resenha - mas musicalmente, temos um conjunto de canções que resumem bastante o que a cantora tem apresentado ao longo dos anos: versatilidade.

Quando mencionamos Barbra ou citamos Judy, é porque é impossível ouvir a trilha sonora (que, por ser uma trilha, obviamente tem uma narrativa) sem lembrar das antigas canções que marcaram época. A história segue a mesma, portanto, as temáticas não diferem tanto - e nem deveriam; logo, é fácil imaginar qualquer uma destas artistas brincando de diversificar seus estilos como Gaga ousou fazer. Aliás, é até estranho ver tantos monstrinhos revoltados com a revelação do final do filme, uma vez que isso está explicitamente e detalhadamente esmiuçado tanto em “Evergreen” quanto em “I’ll Never Love Again”. A maior diferença entre as duas canções se concentra na forma na qual a emoção é passada - a balada em que Gaga encerra o filme soa quase tão épica quanto “I Will Always Love You”, de Whitney, e estamos falando da maior canção-tema de todos os tempos. Mais um ponto positivo que traz indícios iminentes de um Grammy e, quem sabe, um Oscar. Talvez o prêmio perdido para Sam Smith alguns anos atrás finalmente tenha justiça feita e “Till It Happens To You” possa ser vingada devidamente.


Basicamente, as canções de Gaga se dividem em duas fases: as composições/produções (todas assinadas por ela) pop, com contribuições de vários produtores (incluindo o saudosista DJ White Shadow) e o time country que trabalhou com ela no Joanne, como Mark Ronson e Hillary Lindsey. Logo, podemos perceber que apesar de já ter colaborado com estes nomes anteriormente, a sonoridade está mais segura e precisa do que nunca.

Não vale, portanto, fazer uma resenha faixa-a-faixa, por não restarem dúvidas de que o álbum soa muito melhor após o filme e entendimento do roteiro - mas ele já soa incrivelmente bem. É gratificante ouví-la manter-se simples numa versão de tirar o fôlego de “La Vie En Rose” ou flertar com o soft-rock/country em canções-assinatura como o hit “Shallow” (que pode se tornar sua “Lost Inside Of You”) e suas outras colaborações com Bradley Cooper, mas é nas alçadas solo que ela mais brilha e atinge o seu melhor.


O pop que lhe deixou famosa marca presença soando mais energético do que nunca, com melodias pegajosas e surpreendentes para um filme deste nicho, diferenciando-se das demais pelas produções densas porém inteligentes, destacando-se “Why Did You Do That?” (você sabe que uma canção é boa quando não precisa de refrão), que curiosamente teve ajuda de Diane Warren na composição, ou a divertida e inesperada “Hair Body Face”, que tem a letra bobinha, mas que a sonoridade The Fame / The Fame Monster deixa qualquer saudosista com o coração acelerado.

“Heal Me” surpreende por ser mais simplista, mas mantendo o nível apresentado com as demais canções. Amy Winehouse ficaria orgulhosa do que ouvimos em “Look What I Found”, enquanto “Before I Cry” traz vocais que podem te levar numa zona perigosamente emocional.

É um grande momento para os fãs de Gaga. Relembrar momentos dos dias de glória, assim como revisitar facetas recriadas pela cantora ao longo dos anos é bastante reconfortante, firmando sua longevidade como artista em meio a um universo fonográfico efêmero, que já não preza tanto pela qualidade e procura apenas sucessos do momento. A personalidade não é mais um fator tão importante, e ela conseguir manter-se relevante desta forma é, no mínimo, icônico. É, em sua forma mais literal possível, o renascimento de uma estrela.

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