Noga Erez desabafa sobre seu novo álbum "KIDS": "Foi como terapia para mim"

Grande nome da cena alternativa israelense, Noga Erez apresentou ao mundo seu novo álbum KIDS na última sexta-feira (29/03). O projeto traz uma música dançante incrivelmente experimental e com altas doses políticas e catárticas. Com um senso estético muito aguçado, a cantora soube explorar temas como tensão, libertação e ansiedade sempre bem acompanhada de uma licença criativa muito dinâmica, se permitindo ir de um lugar mais descolado para outro extremamente pungente em questão de segundos.

Através de uma autenticidade admirável, a cantora encabeça esse projeto com questões existencialistas que dizem muito sobre nossas vivências no coletivo, englobando todas as esferas e consequências das mesmas. "O álbum fala sobre o fato de crescermos, pegarmos toda a bagagem dos nossos pais e passarmos isso a diante para gerações futuras. Podemos pegar algo muito bonito, incluindo experiências e aprendizados, mas também podemos absorver traumas e outros problemas. Nossa passagem pelo mundo é muito curta. Mas quando partimos, deixamos algo e é isso que cria a humanidade", reflete ela.


Noga ainda afirma que, apesar de ser bem universal, a essência de KIDZ vem de um lugar muito pessoal, por abordar princípios e sentimentos muito intrínsecos à sua própria construção de vida. A cantora admite que, por exemplo, a faixa "Candyman", composta com seu parceiro do álbum Ori Rousso, veio de um lugar muito íntimo: "Nessa música, descrevemos uma situação de estar no hospital com alguém que você ama que você sabe que irá partir. A mãe do Ori faleceu de um câncer e ele era muito próximo dela. Então, essa música é uma storytelling sobre isso, da forma mais crua e detalhada. Me lembro de estar no estúdio após a morte dela e toda vez que tocávamos essa música, começávamos a chorar, porque era muito forte para nós. Parecia como um acelerador do nosso processo de luto e foi muito bonito".

"You So Done" foi outra faixa que marcou muito o processo criativo da cantora. "Essa faixa fala de um relacionamento tóxico e traumático que eu vivi. E a música nasceu de uma conversa que tive com Ori, que é meu parceiro de música e da vida, o homem com quem eu vivo. E ele é exatamente o oposto do que descrevo nessa música. Foi aí, durante essa composição, que eu percebi que isso estava bem na minha frente e eu nem sabia."


Suas músicas podem até ter grandes produções pop que pulsam como um verdadeiro hino contemporâneo, mas a profundidade de cada tema é imensurável. Cada faixa consegue cicatrizar feridas políticas, sociais e sentimentais da própria cantora. "Eu acho que ao ouvir a música, o público se sente acolhido. Mas para mim teve o mesmo efeito. Esse álbum foi como terapia para mim, basicamente", desabafa Noga.

E muito disso se deve não só ao lirismo abstrato que compõe o disco, como também ao experimentalismo ilimitado que a dupla Noga e Ori tiveram a ambição de trazer. Tais sintetizadores ambientam perfeitamente o sentimento de angústia que permeia o disco. Noga deixou claro que sua principal missão era documentar a realidade na forma mais sincera possível musicalmente, por isso a energia das faixas soa muitas vezes como uma força mais agressiva, caótica ou até triste. Porque esse é muito do mundo que vivemos hoje. Até as músicas mais comerciais, como "Views" e "No News On TV", compartilham desse propósito.


Aliás, a experimentação do disco é incrivelmente destemida e plural. Esse é, sem dúvidas, um dos fatores que faz de KIDZ ser uma obra memorável. A cantora admite que grande parte dessa versatilidade sonora se deve inclusive à grande amplitude de artistas que ela tem ouvido. Entre eles estão Kendrick Lamar, Flying Lotus, Radiohead, Tame Impala, Run The Jewels, Anderson Paak, Frank Ocean. Certamente, Noga esteve muito confiante em convergir polos diferentes da música em um único lugar. Isso fez com que esse álbum fosse um passo genial para sua carreira.

E se você curte o som da Noga, fique ligado, porque nos dias 1 e 2 de abril, ela apresentará o universo de KIDS em dois eventos em livestream, onde ela garante que não vai ser um show comum. Ele foi todo pensado para as telas em termos de fotografia. Terão lelas de led, muitas câmeras, 25 dançarinos e muito mais. Mal podemos esperar!

Detalhes e informações sobre ingressos podem ser encontrados AQUI.

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