Amante radical, Dua Lipa derrapa no som do Radical Optimism, mas ainda nos põe para dançar

Cheio de idas e vindas sobre o amor, Dua Lipa lançou na última semana o seu terceiro e mais arriscado disco de estúdio. Radical Optimism nos apresenta a faceta mais exploradora da cantora no quesito sonoridade. O projeto é resultado do trabalho das mãos dos produtores Kevin Parker (Tame Impala), Danny L Harle e Andrew Wyatt.

Mais de quatro anos após o lançamento de seu antecessor, o imbatível Future Nostalgia, álbum responsável por cravar que a cantora britânica chegou para ficar, a nova empreitada de Dua Lipa aposta suas fichas em caminhos inseguros. Radical Optimism não possui uma única sonoridade que conecta todas as 11 músicas de sua extensão, característica essa que é bem clara no seu trabalho anterior.

Apesar de ter poucas pessoas por trás do álbum, o produto final supreendentemente não possui um grande conceito em comum e com isso a sonoridade entre as faixas chega a ser confusa. Liricamente, é possível sentir de pronto um otimismo radical, como sugere o título, na excelente faixa de abertura, "End Of An Era". Outras faixas até propõem aspectos semelhantes, introduzindo uma Dua Lipa mais confiante, segura e madura - é o caso dos singles "Houdini", "Training Season" e "Illusion". As demais canções, no entanto, revelam a positividade de Lipa sobre o amor romântico de maneira mais implícita.


Cada uma serve para o seu único propósito na obra: de dar ghosting a agradecer a ex do seu atual, de enrolar aquele boyzinho a só querer se relacionar com alguém que quer algo sério, Lipa mostra que o amor não é um sentimento óbvio, plano e dicotômico. São muitos aspectos de um mesmo sentimento abordado ao longo das 11 músicas do álbum. O otimismo está na beleza com a qual a cantora enxerga sentidos opostos de um mesmo sentimento.

Vale notar, contudo, que Dua Lipa, autora de todas as faixas, chega a ser monotemática, ainda mais se considerar toda a sua carreira. Apenas "Boys Will Be Boys" e "Dance the Night" fogem ao assunto do amor romântico. Chega a ser massante continuar ouvindo sobre o mesmo tópico após três álbuns. Mas fazer o quê se Dua Lipa se mostra ser viciada em amar.

Não ajuda o fato do Radical Optimism conter músicas das mais esquecíveis da carreira. Enquanto acertou em cheio nos singles "Houdini" e "Training Season", músicas como "These Walls", "Anything For Love" e "Happy For You" agregam pouco ao álbum. Estão longe de serem ruins, mas também não são faixas que souberam ser bem aproveitadas, faltando um grande momento para cada uma delas. Não é o caso de "Falling Forever", na qual Dua solta o vozeirão, ou "Maria", que possuiu uma flauta de fundo viciante. "End Of An Era", "Whatcha Doing" e "Illusion" são os bops do álbum e com certeza serão as responsáveis pelos momentos mais enérgicos da futura turnê.

Assim como seu álbum de estreia, provavelmente o Radical Optimism não será um álbum lembrado de Lipa daqui anos. Não quer dizer que ele não possua faixas que valem a pena ficar no repertório da cantora para o resto da carreira. Os trunfos estão realmente nos singles escolhidos, que ficam ainda melhores nas versões estendidas disponibilizadas nas plataformas de streaming. As demais músicas apenas preenchem espaço sem trazer muita relevância. Talvez o formato de EP fosse melhor para garantir um projeto de maior excelência em sua sonoridade. Porém, sem isso, não seria possível mostrar o quão radicalmente Dua Lipa se expõe ao amor. Em Radical Optimism, o erro da cantora foi amar demais.

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