Álbum de estreia de Dua Lipa propõe pop ousado e inovador


A cantora inglesa Dua Lipa já vem encantando todo mundo com as divertidas “Blow Your Mind (Mwah)” e “Hotter Than Hell”. E, finalmente, depois de tanta espera, o seu primeiro disco foi lançado e só confirma algo que os críticos já previam: Dua Lipa veio para ficar.

Muitos se perguntavam quem era aquela garota tão jovem que vinha desbancando artistas como Drake e Ed Sheeran das paradas britânicas de single, e não demorou muito para o mundo conhecer o dark pop refrescante e cheio de confiança de Dua Lipa. Apesar de já ter lançado alguns singles, a cantora está de disco novo e parece estar pronta para concretizar seu nome no mercado e, muito possivelmente, engolir muitas figuras do pop com seu talento e determinação. Devido ao buzz que os outros singles trouxeram, o seu disco de estreia já estava entre os mais esperados do ano e carrega consigo a missão de tornar Dua Lipa a nova princesa da cena alternativa, e felizmente obtém sucesso.

O álbum, que leva o nome da cantora, te envolve numa mistura agridoce que vai desde batidas dançantes, perfeitas para um clima festivo de fim de noite, até cenários extremamente intimistas cheios de vulnerabilidade e fragilidade. Sendo seu primeiro disco, Dua Lipa brinca com sua versatilidade muito bem, trazendo letras cheias de atitude, que prezam o girlpower, e outras mais melancólicas, todas muito bem interpretadas por sinal. Ela brinca bastante com a sua dualidade extrovertida e introvertida, se mostrando confortável e confiante suficiente para qualquer desafio. Afinal, com aquela voz e olhares matadores daqueles, a cantora nem precisa fazer esforço para deixar muitos de queixo no chão.

O grande diferencial de Dua Lipa sem dúvida é a sua voz, que consegue guiar uma linha sonora pop, sem cair na superficialidade como muitas artistas do gênero. Há algo muito único, selvagem e exótico quanto ao seu timbre grave, que rasga em algumas músicas e se suaviza em outras. Em nenhum momento a cantora se preocupa em seguir a postura meiga e doce e é por isso que ela se distingue das demais, assim como P!nk se posicionou na década de 2000, seguindo um caminho bem “fora da lei”. Por este motivo, Dua Lipa dá um pouco de esperança para a cena jovem atual, trazendo sua própria marca pro jogo, com um som bem original e um repertório cheio de potenciais hits.


Quanto ao repertório do disco, grande parte das melhores faixas já haviam sido lançadas, como “Be The One”, trazendo sua fluidez natural, e o hit destemido “Blow Your Mind (Mwah)”, que carrega a melodia tão contagiante e feroz. Todavia, o álbum serviu para nos introduzir outros grandes hinos, como a agitada “New Rules” e a acústica  “Thinking ‘Bout You”, os dois grandes marcos do álbum, cada um em sua área. “New Rules” surpreende pela pegada house, com clima tropical, tão inesperada para a cantora, mas que funciona perfeitamente, ainda mais com uma percussão única que não tem seu fogo apagado nunca. “Thinking ‘Bout You”, por sua vez, encanta pela produção simplista e crua que abre espaço para Dua Lipa mostrar a capacidade emotiva de sua voz, com um leve toque de sensualidade que leva qualquer um à altura.


Os momentos mais descontraídos e divertidos do álbum ficam por conta de “IDGAF”, “Lost In Your Light” e “Dreams”. Envolvida pela incrível produção de MNEK, “IDGAF” apresenta uma ironia imensa - talvez proposital - devido ao contraste do ritmo tranquilo e sua letra pesada e arisca. A faixa é uma das grandes apostas do álbum, já que a mesma por si só exerce seu indie pop com muita intensidade. “Lost In Your Light” segue uma linha power pop retrô e traz ao álbum um aspecto refrescante no meio de tantas melodias fechadas e secas. Miguel faz parte desta última e, surpreendentemente, o cantor se encaixou perfeitamente com a meloo ritmo e com o tom de Dua. Por fim, “Dreams”, apesar de estar na versão deluxe somente, merece seu devido reconhecimento, porque a música dançante transmite algo muito positivo e alegre, fazendo dela uma grande explosão festiva.


O lado mais obscuro e intimista fica por conta de “Room For Two” e a inesperada “Homesick”. “Room For Two” tem algo muito curioso nela, principalmente pela ousadia na produção e no arranjo, fazendo dela muito diferente de qualquer outra no disco. Num clima bem vulnerável, Dua Lipa parece banhar-se de sentimentos amargos e doces ao mesmo tempo, fazendo desta mistura algo extremamente original. “Homesick” tem nada mais, nada menos que Chris Martin como participação especial e, apesar de se parecer demais como uma continuação pouco criativa de “Everglow” do Coldplay, não há como não se emocionar com o piano melancólico, a harmonia entre os dois e, principalmente, o jeito que Dua Lipa se entrega na música.


Mesmo que o álbum se mantenha mais firme nos pontos fortes, suas fraquezas não deixam de aparecer. A tracklist contém 17 músicas, algo extremamente perigoso para qualquer artista, e como é de se esperar, isso acaba nos trazendo faixas facilmente esquecíveis que falham em causar um impacto notável no meio de tantos grandes monstros musicais. Assim dito, “No Goodbye”, “Begging”, “New Love”, “Bad Together” e “Last Dance” podiam ser descartadas sem grandes danos, até para deixar o álbum mais consistente e coeso.

Por outro lado, um acerto extraordinário, que devia até ser mais explorado, é o aspecto conceitual com analogias religiosas, que infelizmente só foram incorporadas em três músicas de forma nítida, fazendo com que a gente se questione sobre a continuidade do conceito. A tríade de que estou falando é, respectivamente, “Genesis”, “Hotter Than Hell” e “Garden”. Tudo começa com “Genesis”, em que, através de estalos e batidas amistosas, Dua Lipa classifica um interesse amoroso como algo divino e, com isso, luta para conseguí-lo de volta para reatar todo o amor puro que eles tinham no começo da relação. Já em “Hotter Than Hell”, a cantora abraça a sua personalidade “bad girl” para se opor ao seu interesse na figura de um demônio. Assim, ela expõe um pouco do relacionamento dos dois através de frases como “He calls me the devil, I make him wanna sin” e “I’m giving you that pleasure heaven”. Nessa faixa, Dua Lipa veste seu lado obscuro com muita classe e se apropria de sua proposta “dark pop” por inteiro de um jeito brilhante, agradando a maioria do público. E, finalizando, “Garden”, guiada por um piano, expõe o lado mais frágil e delicado da jovem, assim que ela confessa o medo de deixar o jardim de Éden (paraíso), equivalente ao seu relacionamento amoroso. A faixa explora um dos lados mais genuínos e sinceros de Dua Lipa, que realmente chega a arrepiar em alguns momentos.



Num plano geral, Dua Lipa fez uma estreia impressionante, conseguindo unir diferente estilos e emoções em um só disco para formular a sua própria autenticidade sonora e artística. A habilidade vocal da cantora envolve uma magnitude maior do que qualquer cantora da cena alternativa atual, dando espaço para que ela consiga ir para caminhos muito mais amplos, mas sem se perder sua raíz. Com certeza, toda a confiança, ambição e inovação de Dua Lipa, em cada letra e em cada nota, vai levar a cantora para um patamar bem elevado no mercado e é pra isso que estamos aqui, não é mesmo? YOU GO DUA LIPA!!!!






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