Por que o GRLS! é tão necessário para o cenário de festivais brasileiros?

O Festival GRLS! ganhará sua primeira edição nos dias 7 e 8 de março no Memorial da América Latina, em São Paulo. Com uma proposta inovadora no país, o festival traz consigo a missão de apresentar uma escalação de artistas 100% feminina e propor discussões para seus frequentadores.

Em meio a tantos festivais brasileiros que o protagonismo feminino não é colocado como prioridade, o GRLS! se comprometeu em completar seu lineup somente com mulheres. Com ajuda do Popload na curadoria, a produtora T4F conseguiu reunir 8 artistas ímpares nos seus segmentos e promete fazer uma grandiosa primeira edição.

A começar com as headliners, Kylie Minogue e Little Mix. Kylie já é uma lenda na música pop e não tem nada a provar a ninguém. Com seu repertório cheio de hits das últimas quatro décadas, chega a ser um absurdo pensar que esse é somente o segundo show aberto da australiana no Brasil. E por falar em ausência, o festival traz pela primeira vez no país o maior girl group da atualidade! As misturinhas têm uma legião de fãs que passaram anos esperando pela estreia do grupo por aqui. Nesses dois shows, não faltará euforia e histeria vinda dos fãs.


Com a escalação de Tierra Whack, podemos ver claramente a influência do Popload na escolha  das artistas. A rapper americana de só 24 anos faz um R&B excêntrico, flertando constantemente com o hip hop. Suas ideias "fora da caixinha" influenciam diretamente nos seus clipes, um tanto quanto lúdicos, e já lhe renderam indicação de Melhor Vídeo Musical no Grammy 2019! 


No mesmo palco, teremos ainda duas musas brasileiras. Gaby Amarantos sobe ao palco no sábado para apresentar o tecno-brega paraense, enquanto Iza, uma das cantoras mais badaladas do momento, não vai deixar ninguém parado com seus hinos pop que a cantora acumulou com seu trabalho nos últimos anos.  


Completanto o lineup, ainda temos a militância cantada de Linn da Quebrada, o funk refinado de MC Tha e a MPB encorpada da banda curitibana Mulamba. São artistas revelações que não se diminuirão no palco do festival, mesmo cantanto ao lado de outras artistas tão conhecidas como as demais.


Em termos de representatividade, o festival também sai na frente. Seis das oito artistas escaladas são negras, e uma delas, trans. Esse conjunto era quase que inimaginável de acontecer em um festival no Brasil, onde as grandes produtoras fazem questão de trazer os mesmo atos masculinos de sempre, sem arriscar ou ao menos inovar.

Outro ponto importante é que o GRLS! não é só um festival de música. É um festival que irá propor reflexões aos seus frequentadores. O GNT Talks contará com mulheres inspiradoras e influentes que debaterão temas que não saem das nossas rodas de conversa. Pitty, Djamila Ribeiro, Luisa Lovefoxxx, Raquel Virgínia, Conceição Evaristo, Astrid Fontenelle, Monja Coen, Mônica Martelli, Fernanda Lima, Jout Jout, entre outras discutirão sobre a cultura do cancelamento, os cada vez mais comuns textões, etarismo e outros temas que estão disponíveis na programação oficial do evento.

De modo geral, o GRLS! é resultado de um muito interessante que vem acontecendo na cena de festivais internacionais. Alguns dos maiores festivais do mundo não poupam esforços para criar um lineup com maior representatividade feminina, como é o caso do Primavera Sound, na Espanha, que consegue atingir um patamar de 50% de atrações femininas entre todos os artistas escalados. Dá uma olhada no lineup desse ano:




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Enquanto isso, outros festivais menores, que contém menos atrações (como o GRLS!), conseguem tornar o sonho do lineup inteiramente feminino realidade. É o caso dos festivais HearHer, Women Sound Off e Girls Just Wanna Weekend, que ocorrem no Reino Unido, Estados Unidos da América e México, respectivamente. Dentre esses menores, o que mais reverberou mundialmente foi o Festival Statement, na Suécia, que além de um lineup composto unicamente por artistas femininas, somente mulheres podiam comparecer no local. Essa foi a resposta que a organização encontrou de protestar contra os 4 casos de estupro e 23 casos de assédio sexual no Bravalla Festival, maior festival do país até então. Depois do episódio, nunca mais foi feita nenhuma edição desse festival.

O GRLS!, diferente do Festival Statement, é aberto para todos os públicos e pretende proporcionar um espaço onde homens e mulheres, travestis e não-binários, agêneres possam valorizar, reconhecer e perguntar as questões de gênero que nossa sociedade carrega. A proposta de fazer isso por meio dos Talks e dos shows é ainda mais desafiadora. Que essa primeira edição de um festival tão peculiar e necessário não seja a única! É um festival que não dá para perder por nada!