"Brota ouro da onde eu vim", IZA exalta suas origens em "Gueto"

Isabela Cristina Correia de Lima, ou apenas Iza, é um fenômeno e até mesmo através de uma plataforma online como o Zoom é possível ter essa certeza. Na última terça-feira (1), a cantora reuniu um pouco mais de 45 jornalistas em uma coletiva de imprensa onde apresentou com exclusividade o single “Gueto”, carro chefe do próximo álbum.

A pandemia impediu que artista e jornalistas estivessem no mesmo local fisicamente, mas não fez com que Iza perdesse o bom humor e fizesse com que todos os presentes se sentissem únicos. “Todo mundo bem vestido da cintura pra cima, né? Da cintura pra baixo é bermuda e chinelo”, brincou a cantora assim que fez o login, sorridente e se mantendo hidratada tomando uma água de coco. Em 30 minutos de conversa, Iza contou sobre “Gueto”, a música que abre a nova era da cantora exalta seu berço, o subúrbio, e reúne em uma mesma canção o pop, referências e batidas de gêneros urban como dancehall, afrobeat e até mesmo o BPM mais elevado.

"Eu aprendi que não tem muito como eu falar pra onde eu tô indo sem falar de onde eu vim. A gente se perde pelo caminho se não sabe de onde a gente veio, por isso é muito importante fincar o pé no chão, nas suas raízes e deixar claro para outras pessoas que debaixo da nossa trança tem muita história pra contar e isso é muito mais que um estilo. Eu entendo que nosso cabelo faz sucesso hoje, mas isso faz parte do que a gente é, faz parte da nossa sobrevivência. A gente precisa contar nossa história, já que eu não aprendi sobre tranças, eu não fazia ideia de que, por exemplo, algumas mulheres escravizadas escondiam arroz nas tranças para poder alimentar as crianças em casa. Eu não aprendi isso na escola e por que não? Se isso faz parte da história do meu país? Então eu acho que a gente tem que começar a falar já que não estão falando sobre. Eu acho que pessoas que têm um lugar de visibilidade deveriam considerar o que elas podem fazer em prol dessa comunidade para melhorar. Assim como a Beyoncé fez com ‘Black Is King’... Me inspirou muito, me encorajou muito a falar de onde eu vim e acho que isso é mágico. A libertação de você ter orgulho de falar quem é e falar pro mundo quem você é. Isso é mágico e eu espero que meu trabalho tenha um impacto assim na vida de uma pessoa, com certeza o trabalho dela me impactou bastante a continuar tentando encontrar uma voz”.

As origens da cantora também estão presentes no clipe dirigido por Felipe Sassi, referências de Olaria, na Zona Norte do Rio de Janeiro e de outros guetos Brasil afora são recorrentes na mega produção. O sacolé, o banho de mangueira na rua, o orelhão azul, entre outros símbolos significam a mensagem que Iza pretende passar: ela não é a última, há muito mais por vir.

“Significa ter orgulho da onde eu vim, significa mostrar que sim, brota ouro da onde eu vim. Significa mostrar que o que mais faz sucesso nesse país hoje veio do gueto, sim. A gente pode não se ver na TV, mas o que as pessoas têm consumido vem desses lugares, né? Então, eu acho que é sobre isso, entendeu? De falar que a gente faz parte de tudo e a gente deveria ocupar mais, a real é essa, acho que a gente é a base de tudo”, exaltou a cantora.

Cria de Olaria, a cantora homenageou a cidade, o Rio de Janeiro, do bairro em que nasceu usando a Igreja da Penha como palco, e quer saber de mais uma curiosidade? A mulher que aparece subindo as escadas da catedral é Dona Isabel, a mãe da cantora. Além disso, todos os cenários montados da produção foram feitos em uma fábrica de São Paulo. Com uma estética colorida, o videoclipe mostra um gueto diferente do que vemos nos jornais diariamente.


Com empolgação, a cantora explicou a alegria presente na produção. “Eu queria muito desenhar esse gueto colorido que existia na minha cabeça e que existe. Eu lembro de um gueto colorido, bem cuidado, onde a gente não tinha medo de andar na rua, que era ‘de lei’ fechar a rua no domingo e nem precisávamos avisar a prefeitura, era só passar a cordinha e não passava nem caminhão (...) Eu queria muito que as pessoas enxergassem suas origens ali também, sabe? Então eu não queria desenhar totalmente como Olaria, queria que as pessoas tivessem esse olhar também de saudosismo quando vissem o clipe, que lembrassem de coisas especiais que viveram nos seus bairros e a questão dos figurinos é uma coisa que é muito importante. Eu gosto de moda, gosto de me vestir e eu aprendi a me vestir assim em Olaria”.

A música que estava engavetada desde outubro do ano passado, teve o lançamento adiado pela cantora por conta da pandemia. A segurança de todos os envolvidos na produção estava em primeiro plano. Sobre o álbum que ainda não possui nome e ainda não foi finalizado - Iza revelou que ainda está definindo quais músicas integrarão o disco -, a cantora promete viajar por diversos gêneros musicais como reggae, trap e o R&B, o que já ocorreu em “Dona de Mim” e promete parcerias.

“Eu ia amar fazer uma música com a Lud (Ludmilla). A Lud já canta muito antes de eu começar a cantar, é muito importante dizer que ela é, na minha opinião, a maior cantora negra do país. Eu sou muito apaixonada pelo trabalho dela e ela é uma mulher que me inspira muito então seria um put* de um presente fazer uma música com ela e nós já estamos conversando sobre isso”.

Aos risos a cantora ainda contou sobre a parceria com Sam Smith. Para tristeza geral da nação, sem feat com o britânico por enquanto, o rumor foi inclusive citado pela cantora como “delírio coletivo”. As fotos iguais nos perfis de ambos os artistas não passaram de uma coincidência. “Ele tá me seguindo mesmo e seria uma honra fazer um feat com ele, mas não tem nada confirmado. Essa história com o Sam Smith foi só uma coincidência que eu amei, que só confirmou que eu realmente quero muito uma parceria com ele, mas por enquanto é só especulação”, contou.

Iza ainda falou sobre o momento que vivemos. Desde 2020, o Brasil - e o mundo - sofre com a pandemia de Covid-19 e a cantora aproveitou o momento para se redescobrir. Recentemente, a cantora foi escolhida pela revista Time como uma das “líderes da próxima geração”, o que foi um indicativo para a artista de que ela está no caminho certo.

“Eu tive tempo de olhar e pensar ‘poxa, quanta coisa incrível aconteceu’ porque quando você tá trabalhando e as coisas estão acontecendo você não tem tempo de assimilar tudo de presente que tá acontecendo de bonito na sua vida. Então, teve isso de poder parar e olhar tudo que foi construído até ali. Quando a gente tá na estrada, trabalhando, eu tinha facilidade de esquecer os meus problemas já que mesmo eu não estivesse me sentindo bem, que eu me achasse uma farsa ou qualquer coisa parecida tinha sempre gente ali me aplaudindo, querendo me ver. Você acordou ali horrorosa, mas tem sempre alguém que te viu pela primeira vez e disse ‘MEU DEUS, COMO VOCÊ TÁ MARAVILHOSA!’. Você esquece as coisas, vai achando que tá tudo bem trocando carinho com as pessoas e você vai pensando que tá tudo bem, chegou o momento que tava só eu em casa: sem cílios postiços, apliques, unhas postiças... só eu e o espelho. E eu tive que olhar pra mim e me ver com todas as minhas inseguranças e ver tudo que eu tava empurrando pra debaixo do tapete. (...) Eu era minha maior inimiga e durante a pandemia eu tive tempo pra encarar esses monstros e tentar me curar disso e foi muito importante pro meu álbum, porque até eu conseguir me entender comigo mesma eu não estava conseguindo compor, não estava conseguindo fazer nada e agora tá rolando”.

Além do álbum, a cantora planeja entregar mais produções visuais de forma criativa incluindo um show para o lançamento do disco que será entregue aos fãs no próximo semestre. Em diversos momentos do bate papo, a cantora se mostrou assertiva quando questionada sobre representatividade e visivelmente emocionada, Iza se despediu do encontro agradecendo o apoio da imprensa.

Em “Gueto”, Iza fala sobre ter histórias para contar debaixo das suas tranças, o que aumenta a ansiedade para ouvi-la contar e cantar ainda mais.

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