Imerso em angústias causadas pela pandemia, Sebastianismos surpreende com o disco “Tóxico”

Sebastián, ou melhor, Sebastianismos lançou seu segundo álbum, Tóxico. Ao fazer as pazes com o punk, o cantor diz estar de volta ao lar e reúne músicos como Badauí do CPM 22, Dani Weks da NX Zero e banda Fresno no disco que, de certa forma, celebra todo tipo de sentimento. Em entrevista ao Keeping Track, Sebastián conta sobre seu tempo imerso no disco, sua relação com o punk e muito mais!

Conversamos com Sebastianismos no dia seguinte ao lançamento de “Tóxico”, sobre a recepção do disco, o artista conta: “Eu tô muito feliz, muito grato! Lancei o disco ontem e já tem uma galera falando do disco como se ele já fosse um clássico”. Em seu primeiro dia de lançamento, o disco bateu mais de 200 mil streamings no Spotify. Talvez a galera que está tratando o disco como um clássico esteja certa. Porém, a ideia de lançar um disco foi despretensiosa. Em meio às angústias causadas pela pandemia, perda de pessoas próximas e o desgoverno no país, surgiu a necessidade de colocar esses sentimentos para fora.

Para desintoxicar, foi criado “Tóxico”

Em 2020, Sebastianismos lançou seu primeiro disco: dançante e divertido. Mas em meio a tudo que estava acontecendo, sentiu que precisava recomeçar. Foi então que saiu das redes sociais, montou um estúdio no quarto e começou uma espécie de imersão naqueles sentimentos. “Quando fico nessa pegada, o tempo para de existir e eu fiquei das seis da manhã até meia noite escrevendo, compondo, pensando, arquitetando. Começando a tentar construir um universo que pra mim hoje chama Tóxico, mas naquele momento era só um monte de emoções e palavras vomitadas no papel”. E o tempo parou de existir para Sebastián por 30 dias. Em seu estúdio em casa, o artista escreveu 30 músicas. Isso mesmo, 30 dias, 30 músicas.

Sobre as vinte músicas que ficaram de fora, o artista diz: “Acho que vou ter que colocar pra fora. Tem músicas que você faz e demora anos pra sair, então não sei. Em algum momento pode ser que saia, pode ser que não”.

Fazendo as pazes com o punk

De acordo com Sebastianismos, fazer um disco punk não foi uma decisão consciente. Ele, que cresceu no punk rock e foi acolhido pelo cena de contracultura em São Paulo na adolescência, anos depois percebeu uma certa hipocrisia nessa cena. “Apesar de ser um ambiente que contestava o sistema, chamando os esquisitos, era um lugar confortável que só acolhia quem fosse homem branco hetéro cisgênero. Era muito machista, muito sexista, era falocêntrico”, aponta. Quando notou essas incoerências, montou a Francisco, el Hombre com integrantes que também cresceram nesse meio. “Apesar de não tocar punk e rock, somos uma banda punk. Porque a coisa mais punk que a Francisco fez, foi sair desse punk rock pra voltar à rua porque a rua é de todos”, explica Sebastián.

Porém, uma conversa com Rodrigo, vocalista da Dead Fish, fez Sebastianismos entender que ele não precisa compactuar com a forma tóxica de expressão do rock, mas sim mudar isso. “Não adianta a gente querer mudar o mundo, se a gente não aprende a lavar louça em casa primeiro e se eu sou dessa cena rockeira e ela é tóxica, não cabe a mim ficar tentando me encontrar em outras cenas que não pertenço e dificilmente vou pertencer, cabe a mim lavar a louça e mudar a cena de dentro pra fora”, argumenta. “Fiz as pazes com meu lado rockeiro e decidi voltar ao meu ninho, ao meu lar e mudar tudo o que tem de ruim”. E “por mera coincidência do universo”, o pop punk está voltando com tudo! Com isso, o cantor brinca: "Essa é a onda que eu sei surfar, então eu vou tirar uma onda mesmo!”.


“Apesar de ser um disco solo, é tudo menos solitário”

É assim que Sebastianismos fala sobre as parcerias mais que especiais que estão na metade do disco. “Eu gosto de gente, gosto de dividir! Pra mim, fazia muito sentido que esse disco fosse cheio de participações, queria participações de quem me inspirava ontem, quem me inspira hoje e quem me inspira amanhã” e com isso temos CMP 22, NX Zero e Fresno, bandas que influenciaram toda uma geração de pop punk e emo brasileiro. Em “Não Mudaria Nada” Badauí do CPM divide vocais com Sebástian, “Jogo de Azar” foi interpretada e produzida por Sebastianismos e Danis Weks, baterista da NX. “Cicatriza” traz toda banda Fresno, composição assinada por Lucas e Sebástian e produção do vocalista da Fresno.

Ao mesmo tempo, minha maior parceria de hoje é a Malfeitona, minha idola, e poder fazer música com/para a pessoa que você mais admira no mundo é muito emocionante”. Malfeitona está presente em “Se Nem Deus Agrada Todo Mundo Muito Menos Eu”.

Fechando o disco, temos “Indestrutível” com Faustino, parceria destacada por Sebastián. “Faustino é daqui de Salvador, é um grande produtor e foi um grande web amigo. É muito raro pessoas serem simpáticas sem esperar nada em troca (...) Queria muito fazer música com ele e ficou incrível, ele tem uma voz incrível!”.

O Sebastianismos

Primeiro, gostaria de contar como surgiu o nome Sebastianismos. “É meio aclimático, mas acho massa contar”, brinca Sebastian. “Veio do Instagram. Tem trilhões de Sebastians (no Instagram) e fiquei pensando ‘preciso fazer um @ e não sei qual vai ser’. A primeira coisa que pensei foi Sebastianismos. Só existe um @, portanto, só existe um Sebastianismos no mundo”.

Sobre a criação do projeto solo, Sebastián diz: “Ser humano é um ser afetivo e precisa se relacionar com pessoas, porque é com cada relacionamento que você cresce, aprende e pra mim é a mesma coisa na música.” O cantor acredita que, apesar da Francisco ser sua família, a força criativa de cada um dos integrantes não tem que soar através de um mesmo coletivo. “Quando me expresso enquanto indivíduo, me entendo melhor”, afirma.

Francisco, el Hombre

A banda Francisco, el Hombre foi criada em 2013 e já foi indicada ao Grammy Latino por sua canção mais famosa “Triste, Louca ou Má”. Perguntado sobre o momento atual da Francisco, Sebastianismos diz: “A Francisco trabalhou muito na pandemia, no primeiro ano a gente lançou cinco ou seis singles com participações internacionais. Agora a gente se juntou pra várias imersões que a gente tá chamando de 'Casa Francisco'. Além disso, o próximo disco da banda já está pronto e, em breve, será lançado. “A gente preparou um dos discos mais bonitos da nossa carreira até agora”, comenta Sebastián nos deixando ansiosos.

Ouça Tóxico

É um disco curto, é um disco fácil de você transitar e eu acho que cada música puxa na próxima”. A lamentação sobre o mundo tóxico em que estamos vivendo abre o disco em sua faixa-título e “Indestrutível” finaliza com a mensagem de que nada vai te abalar, porque você está indestrutível. “Tóxico” é um disco muito completo e muito bom de ouvir, principalmente quando nada está fazendo sentido. Essa obra carregada de pop, punk e emo, é também carregada de sentimento. É isso que faz dela gigante! Para Sebastianismos, “É uma jornada que evidencia o mundo tóxico, mas termina saindo dessa lama”.

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