Com muita ousadia e reflexão, os mineiros da Daparte estão de volta com o terceiro álbum de estúdio, o Baterias de Emergência! E é claro que o Keeping Track traz todos os detalhes desse projeto pra vocês (além de um bate-papo super bacana com a banda).
Após quase três anos do lançamento do último álbum, a Daparte retorna aos holofotes com um alvo em mente. Você anda se sentindo um pouco perdido, com amigos saindo da faculdade e outros casando, pensando que talvez a vida não seja tão colorida assim ou que está tudo bem não ser importante para todo mundo? Então Baterias de Emergência é perfeito pra você!
Se em Fugadoce a banda deu foco nas nuances das relações amorosas, o novo projeto traz uma veia mais existencialista e filosófica, ideal para quem está passando pela crise dos 20 e tantos anos, como explica o vocalista Juliano Rosa. “A gente quis falar sobre as dificuldades da vida e coisas que acontecem com a gente no nosso cotidiano, nessa vida de 25 anos. A gente é meio adulto e jovem ao mesmo tempo. Tem pessoas que estão mais perdidas, outras nem tanto. Então é uma fase da vida que a gente se encontra em um turbilhão de dúvidas e receios”.
E quando falamos que a banda enveredou para a filosofia, não estamos brincando, já que a literatura teve forte influência nas composições do projeto. “Eu sempre gosto de trazer coisas do mundo literário também. Eu tava lendo Dostoiévski, Tolstói, que são escritores russos, né? Quando você traduz para português é sempre esquisito e gera umas frases estranhas. E é lindo! Pensando bem, o tradutor que eu não sei quem é, também influenciou na minha escrita”, conta João Ferreira, vocalista da Daparte.
Diferente dos primeiros dois álbuns da banda, a produção do Baterias de Emergência flerta muito mais com o rock eletrônico e psicodélico, com direito a muito sintetizador e recado. Artistas como The Strokes, David Bowie, Daft Punk, The Last Shadow Puppets e Temples são só alguns dos citados por João e Juliano como fortes inspirações para o projeto. E o mais legal disso tudo? Pela primeira vez a banda assinou a produção de um disco!
“A gente adora o Fugadoce, mas a gente entende que esse disco talvez converse mais com o que a gente é agora. E eu vejo que foi natural [o amadurecimento]. E a gente teve esses anos todos para entender e trabalhar o que mostrar para o público, com um som um pouco mais maduro, gringo, indie e inovador também”, explica Juliano.
E parte da motriz dessa liberdade partiu da mudança no processo criativo da banda, quando o João decidiu se mudar para a capital paulista. “Lá em São Paulo e eu não tendo os meninos, comecei a escrever e estudar muito produção, escrever já produzindo músicas. Então, por exemplo, “Baterias de Emergência”, a faixa do álbum foi uma das que eu mandei para os meninos já com uma demo”.
“Teve o processo contrário também! Acho que quatro faixas do disco (“Lâmina Cega”, “Ultravioleta”, “Invisível” e “Meus Poucos Amigos”), a gente trabalhou elas e mandou pro João. A gente teve que começar do zero a criar o arranjo com a banda. Então, também foi um jeito novo de trabalhar, [mostra que] você pode começar uma música tanto no computador sozinho quanto com uma banda, todo mundo com instrumento na mão e depois você leva para o computador”, Juliano explica citando a dinâmica dos integrantes que permaneceram em BH.
Além de muita música boa, a mudança do João ainda rendeu a única parceria no álbum, com a Ana Caetano, do Anavitória, na faixa “Belo Horizonte”. “Eu conheci ela em 2019, quando a gente escreveu ‘Tenta Acreditar’, que é uma faixa do álbum COR. E quando eu mudei pra São Paulo, ela foi uma pessoa que me acolheu muito [...] Um dia eu estava trabalhando com ela e mostrei várias demos que a gente já tinha. ‘Belo Horizonte’ era uma. Eu lembro quando eu botei, ela levantou da cadeira e falou ‘Nossa, isso aí tem que ser o single do disco’. Aí quando a gente foi gravar e escolheu que ela estaria no disco de fato, eu falei com os meninos [da parceria]. Mandei para ela a ideia e ela ‘Nossa, animo demais’. Ela veio para BH, gravou a voz e depois a gente marcou de gravar o clipe. Eu fiquei muito feliz!”.
Baterias de Emergência conta com 10 faixas que exploram os desafios no fato de simplesmente existirmos, sem nunca deixar o ouvinte se dispersar, apenas aumentando ou diminuindo a velocidade da viagem. E se você escutar com atenção, vai perceber que as faixas carregam trechos de demos, e momentos nos bastidores, deixando tudo ainda mais intimista.
Agora que você conheceu um pouco dos bastidores do processo criativo, bora pro álbum?
O projeto começa com a contagiante “Notas sobre o mal humor”, que envolve o ouvinte desde os primeiros segundos. Com um ritmo marcado e uma atmosfera sensual, a canção fala sobre desejar alguém, mesmo em meio à monotonia do cotidiano. A cósmica “Ultravioleta” é uma forte candidata a ser a queridinha dos fãs, e com razão, já que sua produção é uma das mais interessantes e inovadoras do projeto.
Referências à cidade de São Paulo e um refrão sem letra fazem de “Baterias de Emergência”, a faixa-título, um ótimo exemplo da proposta sonora do novo álbum. Fortíssima candidata a ser a nova música de abertura dos shows (e considerada pela banda como meia irmã da canção “O Farol”), a faixa “Lâmina Cega” chega com os dois pés na porta. Potente, sensual e barulhenta, ela narra a devoção e o desejo que o eu lírico sente por alguém.
“Invisível” traz uma atmosfera melancólica e sonhadora ao abordar a falta de sentido que as pessoas enfrentam ao longo da vida, ainda que ao final o eu lírico prometa que é possível enxergar o outro lado da moeda. A review completa das faixas “Meus Poucos Amigos” e “Belo Horizonte” você confere clicando aqui!
Definitivamente a faixa mais existencialista é “Fila do Pão”! Com um som mais acústico, a canção narra a melancolia que pode ser tentar encontrar um sentido na vida, principalmente quando as pessoas ao redor parecem já ter decifrado o código.
“Templos” usa e abusa de sintetizadores ao falar sobre a conexão que sentimos com alguém ao simplesmente trocar um olhar. O encerramento fica por conta da faixa “O Vazio”, que ao longo de 4 minutos passa por todas as fases que o eu lírico enfrentou ao longo do projeto, como ansiedade e incerteza, terminando na aceitação e reconciliação consigo mesmo.
Com Baterias de Emergência, a banda Daparte mostra que até as partes mais espinhosas da vida podem ser inspiradoras, e que até o som mais incomum pode ser uma sinfonia para os ouvidos. Agora é ficar de olho pra não perder a chance de curtir esse projeto ao vivo, que já conta com datas em SP (19/11), Belo Horizonte (29/11) e Rio de Janeiro (01/12)!
Belo trabalho! O álbum capta exatamente essa essência da "crises de 20 e tantos anos" porem algo que me fez gostar ainda mais deste álbum, é a vontade de viver e experimentar coisas novas que ele me transmite.
ResponderExcluirMuito obrigado a jornalista por ter feito esta matéria impecável!