Charlie Puth tenta fugir das raízes do pop teen em seu álbum de estreia, "Nine Track Mind"


Depois do estrondoso sucesso de “See You Again” – parceria com Wiz Khalifa –, Charlie Puth, na última sexta (29/01), finalmente lançou seu primeiro álbum de estúdio, Nine Track Mind. Mesmo estando muito preso ao estilo romântico cafona, o cantor consegue ter seus momentos grandiosos, principalmente quando arrisca com o blue eyed soul.




Em seu primeiro álbum, é perceptível a tentativa de reconstrução de imagem de um artista pop teen para um artista mais maduro, com uma sonoridade meio retrô, englobando elementos do R&B e da música soul. E, de fato, em algumas faixas, o cantor tem sucesso em sua proposta. Porém, em outras, o cenário tediante predomina. Não é um álbum horrível, porém, depois de dois smash hits como “See You Again” e “Marvin Gaye”, é de se esperar algo melhor para um álbum de estreia.


No entanto, tentando ser positivo, Charlie Puth não se rendeu ao pop mainstream, o que já é um ótimo começo. A música soul é o estilo certo para o cantor, e não há dúvidas disso. Muitos artistas, até com mais de três discos no currículo, ainda não conseguiram se achar musicalmente, enquanto Charlie já está no caminho certo, porém precisa caminhar com cautela para obter maior coesão em seus materiais.


“One Call Away”: Se todo o álbum fosse como esta faixa, seria uma vitória imensa para Charlie. A música é um exemplo a ser seguido, visto que a letra não é cansativa, o piano está suave e na medida certa que, ao acompanhar a voz do cantor, cria uma passagem harmoniosa. Esta música consegue ser bem radiofônica, no entanto, ao mesmo tempo, é mantida sua aura.

“Dangerously”: Charlie Puth ainda mantém a qualidade com “Dangerously”, arrasando nos falsetes e em todas as suas notas, em geral. A vibe retrô começa a partir daqui, pois a música parece muito com o pop da década de 80. A faixa mid-tempo prova que Charlie Puth consegue expressar bem um sentimento com equilíbrio, sem se perder pelo caminho. Aliás, esta é minha aposta para o próximo single.

“Marvin Gaye (feat. Meghan Trainor)”: Este dueto já é um hit tremendo na América do Norte e eu não poderia ficar mais feliz. Quem diria que uma música derivada do doo wops – subgênero do R&B – estaria tocando nas rádios em pleno ano de 2015, não é mesmo? A sintonia da dupla é maravilhosa, assim como a harmonia dos dois. Até aqui, Charlie Puth está de parabéns!

“Losing My Mind”: Chegando na quarta faixa, a qualidade do álbum cai numa escala inesperada! Charlie Puth já revelou a inspiração de “Losing My Mind”: ele estava tendo bloqueio artístico e estava perdendo a cabeça com isso, portanto decidiu escrever uma música sobre perder a sanidade – que péssima ideia. Bom, o bloqueio refletiu drasticamente na faixa, e Charlie não usa seus vocais da maneira certa, e o mesmo vale pelo instrumental que, por conta da percussão chata da música, faz com que a gente sinta saudades do piano melódico, que combina bem mais com ele.

“We Don’t Talk Anymore (feat. Selena Gomez)”: Chamar Selena Gomez para um dueto, quando se está tentando fugir do pop teen, definitivamente não é uma boa ideia. Porém, mesmo assim, é uma faixa que está na medida certa em todos os sentidos. Não é forçado. Muito pelo contrário, é um música bem natural e agradável.

“My Gospel”: A música parece não encontrar a linearidade que precisa. “My Gospel” causa estranhamento, pois novamente Charlie Puth não conseguiu executar sua capacidade artística ao máximo.

“Up All Night”: Ok, parece que o cantor volta a se achar nesta canção. Ele consegue manter um ritmo adorável e ao mesmo tempo, expõe sua técnica vocal da melhor forma possível. Gostei muito do instrumental dessa música, principalmente por conta dos violinos, que têm tudo a ver com a sonoridade do cantor.

“Left Right Left”: Bom, esta música não é algo tão incrível. Porém, tirando o refrão – que é muito brega –, dá pra considerar os vocais incríveis do cantor.

“Then There’s You”: A letra da música poderia ser melhor trabalhada, sem contar a melodia desagradável e a produção pobre da música. Infelizmente, a coisa não está tão boa para Charlie Puth – o que me chateia muito.

“Suffer”: Lembrando muito o estilo de Sam Smith, o cantor melhora o nível nesta canção, com uma pegada bem retrô novamente e vocais maravilhosos, o cantor coloca toda seus sentimentos na música.
 
“As You Are (feat. Shy Carter)”: Esta é uma faixa bem melosa, porém seria crueldade demais falar que essa música é ruim, uma vez que Charlie Puth dá o seu melhor com uma melodia bem soul e jazz. Só acho desnecessário os versos de rap nesta ocasião.

“Some Type of Love”: Com uma produção simples, sem muito exagero, Charlie encerra o álbum com uma música coerente e gostosa de se ouvir.



Acredito no potencial de Charlie Puth e, justamente por acreditar, sei que ele pode fazer melhor do que o seu álbum de estreia. A competência dele é enorme para ser desperdiçada em um álbum como este. É um disco morno, porém ainda estou confiante que em seu próximo álbum, ele consiga fazer uma mistura musical muito mais proporcional do que a que realizou em Nine Track Mind.

Por outro lado, temos que ressaltar o quanto o cantor é corajoso em seguir um estilo totalmente subestimado na indústria atual. Charlie Puth consegue, em algumas faixas, executar um soul de forma tão pura que, muitas vezes, é como se a música nos levasse para uma discoteca qualquer dos anos 70/80. 

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