Ela Minus conta tudo sobre o experimentalismo inusitado de seu novo álbum "Acts of Rebellion"

A nova grande revelação da música alternativa, Ela Minus impressionou a todos com seu álbum de estreia, acts of rebellion, um manifesto complexo e político feito inteiramente pela própria artista de forma 100% analógica. O disco é uma jornada imersiva que nos convida a refletir sobre o modo que levamos a vida, acompanhado de um experimentalismo primoroso que contrasta entre vibrações calorosas e sombrias. Com um lançamento tão triunfal como este, não poderíamos perder a chance de bater um papo com a cantora. Ela nos contou sobre o processo criativo e várias outras curiosidades do álbum.

Confira a entrevista com Ela Minus na íntegra:

KT: Para conhecer um pouco mais do seu background na música, pode me contar um pouco pra gente  sobre como você se apaixou por esse meio e decidiu seguir como carreira?

Ela Minus: Comecei muito jovem quando eu tinha 8 anos. Eu tocava piano e depois comecei a tocar bateria em bandas de punk durante toda a minha adolescência. Depois fui para a faculdade de bateria e aí comecei a fazer música eletrônica após a graduação. Eu nunca tive dúvidas sobre a carreira na música. Nunca fiz outra coisa e fui muito determinada. Não era algo racional. Eu só continuei fazendo, porque eu amo isso.

KT: E agora você tem seu álbum debute, Acts of Rebellion, que já está recebendo aclamação mundial. Como esse lançamento te representa musicalmente e como artista?

Ela Minus: Eu fiz o disco completamente sozinha, então coloquei tudo o que sou nisso, de todas as maneiras. É 100% eu.


KT: Bacana! Para um álbum de estreia, é muito corajoso produzir ele todo sozinho e admiro muito isso em você, principalmente após o resultado. Quais foram os maiores desafios e coisas pelas quais você se orgulha nesse trabalho?

Ela Minus: Foi bem solitário, para começar (risos). Alguns dias era incrível e eu tinha uma resposta para tudo, mas em outros dias era bem confuso e eu não sabia o que diabos estava fazendo. Tive altos e baixos. Mas eu estava muito empenhada em terminar e sabia exatamente o que queria fazer. Acho que o maior desafio foi ser organizada e ter autodisciplina, porque era só eu, todos os dias, trabalhando e tentando encontrar um significado.

KT: Você fez o álbum durante a quarentena, agora em 2020?

Ela Minus: Fiz tudo em 2018. he did it 2018. Comecei por volta de outubro e novembro de 2018 e depois terminei em fevereiro de 2019, algo como 4 meses.

KT: E o que é legal é que os temas ainda são muito atuais. O álbum tem um cunho político muito forte. Qual é a principal mensagem que você queria passar?

Ela Minus: Bem, eu queria que fosse mais do que uma mensagem. Eu queria fazer um convite para as pessoas questionarem e lutarem por tudo. Falo de todas essas ideias que foram impostas e preconcebidas a todos nós, na vida pessoal e profissional. Eu quis fazer com que as pessoas questionassem e mostrar a elas que podemos mudar e nos rebelar pela transformação. Uma vez que mudamos a nossa vida, mudamos a sociedade ao nosso redor. Tudo começa da gente. E fiquei muita surpresa pelo contexto que vivemos nesse ano, porque eu não tinha ideia que estaríamos passando por isso tudo enquanto produzia o disco. Sinto até que se eu tivesse um álbum diferente, mais pessoal, eu não iria lançar agora. Eu iria esperar. Estou muito feliz de ter algo tão relevante e importante para os dias de hoje e acho que as pessoas precisam disso.


KT: Muito bacana como tudo se conectou. E outra coisa que me deixou curioso é sobre suas influências no álbum, porque ele soa de forma muito diversa. O que você estava ouvindo no momento?

Ela Minus: Eu estava ouvindo muito new wave europeu, porque tinha acabado de fazer uma tour na Europa. Também música eletrônica antiga, do final dos anos 80 e década de 90. Também os trabalhos mais antigos do Daft Punk, lá do primeiro álbum. Curiosamente, eu não estava ouvindo nenhuma música ambiente. Elas vieram de forma mais espontânea. Eu tenho uma gravação de 45 minutos minha só improvisando. Eu achei até que ia fazer um álbum inteiro de música ambiente. Mas vi que era importante misturar os dois universos.

KT: Legal! E quais faixas mais te tiraram da zona de conforto?

Ela Minus: Boa pergunta! Acho que a primeira, "N19 5NF". Acho que foi grandiosa. Na verdade, pensei em retirá-lo do álbum, porque é puro improviso. Eu não sabia como editar mais ou como encaixá-la no disco. Mas eu amei tanto, senti tantas coisas e pensei que as pessoas poderiam gostar assim. Eu acho que ela foi a que mais me tirou da zona de conforto, porque eu me senti sem controle na produção. Foi espontâneo. Na verdade, todas músicas ambiente foram muito fora do meu conforto. Porque não tinha a menor ideia do que estava fazendo, só gravei. Nem sabia se eu ia conseguir tocar aquilo novamente. Agora estou ansiosa para explorar isso mais.

KT: E como podemos imaginar um show seu para essas músicas?

Ela Minus: Na verdade, eu já toquei antes da pandemia, antes mesmo de lançar. Bem, mas o que eu realmente gosto desse projeto é que ele é todo analógico, eu não usei nenhum computador para gravar o áudio. Realmente acredito em música ao vivo, então não gravo nada que não possa tocar ao vivo. Muito dos shows acabam tendo ainda mais improviso. Cada noite é diferente. Quando eu toco as músicas ambiente e sinto as pessoas conectadas comigo é um dos momentos mais bonitos do show.

KT: Teve algum instrumento que você não sabia tocar e aprendeu para o disco especificamente?

Ela Minus: Sim, na verdade, eu nunca havia usado Eurorack, um sintetizador modular. Porque sou uma pessoa mais old school e Eurorack é mais moderno e caro. E eu não sou tão afim de instrumentos caros. Eu acredito que os instrumentos devem ser baratos e acessíveis a todos. Não deveriam custar o preço de uma casa, é ridículo. Mas eu acabei virando amiga de um dono de uma loja em Nova York e ele gostava da minha música. Ele acabou me emprestando alguns equipamentos. Não gostei dos sintetizadores, mas curti os efeitos. A primeira música, aliás, é de um equipamento modular pequeno de efeitos que peguei emprestado e aprendi a usar lá na hora mesmo.

KT: Que interessante! E minha última pergunta é sobre suas metas para 2021. O que você sonha em fazer daqui para frente?

Ela Minus: Eu quero continuar. Quero fazer um novo álbum agora mesmo. Espero que eu consiga. Quero aproveitar que dezembro e janeiro são meses mais calmos para fazer um segundo disco agora mesmo. E, claro, assim que os shows estiverem de volta, quero tocar ao vivo o máximo possível. É isso que mais amo fazer na vida!

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