São raros artistas na Indústria como Dominic Harrison, mais conhecido como Yungblud. Sempre com sua imagem desleixada, delineado borrado e um olhar penetrante digno de rockstar, o cantor tem sido um verdadeiro porta-voz da Geração Z, abraçando seus traumas, anseios e lados mais obscuros e transformando em arte. É com essa premissa, que vai muito além da música, que Yungblud se aproxima de sua audiência em seu disco autointitulado, um dos trabalhos mais pessoais de toda a sua carreira.
Desde seu álbum 21st Century Liability, Yungblud fez história e conquistou uma legião de fãs, renovando o rock de um jeito excêntrico e revigorante. Ele vem colaborando com outros grandes nomes da cena, como Bring Me The Horizon, Machine Gun Kelly e Halsey, além de também ter ganhado reconhecimento de lendas do movimento, como Mick Jagger, Ozzy Osbourne, Steve Jones e Dave Grohl. Sua persona caricata parece agradar um pouco de todos os públicos.
Neste novo álbum apesar das melodias não terem o protagonismo impactante como foi nos últimos discos, é certamente um marco de amadurecimento em suas temáticas, que estão aqui com nuances muito mais reveladoras e confessionais.
Na faixa de abertura "The Funeral", uma dos melhores do disco, Yungblud evoca um espírito Billy Idol em um groove dançante e, de certa forma obscuro, onde o artista romantiza sua morte com um hino vibrante que certamente será, por décadas, um marco de sua carreira. No videoclipe, ele cava sua própria cova e surfa na multidão em um caixão até que Ozzy e Sharon Osbourne chegam a atropelá-lo com seu carro. “Apenas um maldito poser”, Sharon zomba.
No meio de tantos pensamentos autodepreciativos, Yungblud também encontra um espaço para um romance como é o caso da eufórica "Tissues", onde ele usa o sample do banger gótico "Close To Me", do The Cure. Outro ápice do disco fica por conta do mantra empoderador de "Memories", a parceria com Willow que fala sobre o escapismo da realidade. De jeito doce e cativante, "Cruel Kids" vem na sequência com uma proposta reconfortante sobre não querer ser igual aos outros. "Eu quero uma vida melhor", exclama ele no refrão que parece ter saído de seu diário da adolescência. O mesmo é abordado, de jeito bem chiclete, na frenética "Mad".
Yungblud também levanta a voz em termos de representatividade ao abordar suas acusações de queerbating em "I Cry 2", uma faixa muito carregada por influências de The 1975. Já na estética elétrica e vintage de "Sex Not Violence" ele fala sobre amor plural e direitos trans. Na poética "Sweet Heroine", Yungblud continua a narrativa de amor, trauma, aceitação e cumplicidade. A música purifica o disco com um ar cristalino necessário para a obra.
Após algumas faixas melódicas, "Don't Go" mostra o que Yungblud faz de melhor. É uma faixa cheia de percussão que implora por esperança em um relacionamento complicado. O ritmo é avassalador e, sem dúvidas, está no Top 3 melhores músicas do disco. Aproveitando o clima festivo, o artista parece jogar todas as suas angústias para cima com a divertida rebeldia de "Don’t Feel Like Feeling Sad Today".
Com menos de dois minutos, a faixa seguinte "Die For a Night" hipnotiza em seu primeiro play. Na balada acústica, ele cria um ambiente desolador ao desafiar a própria morte, dessa vez de forma muito mais visceral do que a primeira vez que aborda o tema na faixa de abertura. Já em "The Boy In The Black Dress", Yungblud canta sobre masculinidade tóxica em um tom calmo e versos reveladores. E para encerrar, temos a fervorosa "The Emperor", que parece ter feita sob medida para agitar multidões em festivais. Um grande encerramento!
Apesar de não ter uma musicalidade palatável em todos os momentos, o disco consegue ganhar o público pela personalidade cativante de Yungblud. A figura "estranha" que uma vez o afastou da sociedade, agora promove a união e acolhe em melodias exuberantes e letras genuínas.
Aproveite e confira a entrevista recente que o cantor fez com a gente:
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