O papel da música em 2020



Não, este não é um texto sobre resiliência e sobre o lado positivo do caos. A pandemia não tem lado positivo, e quase 200 mil vidas brasileiras perdidas são uma prova mais que suficiente. 2020 foi um ano horrível e que, em diferentes escalas, afetou a todos nós.

Disclaimer feito, vamos ao texto! 

O ano de 2020 foi, sem sombra de dúvidas, a definição de “início de um show X deu tudo errado”. Nunca passou pelas nossas cabeças que shows tão aguardados, como os de Billie Eilish e Taylor Swift, seriam cancelados e sem previsão para acontecer. As famosas, e muitas vezes vítimas da procrastinação, resoluções de ano novo se resumiram a ficar vivo, e tentar não enlouquecer ficando tantos dias em casa. 

Foi o ano em que qualquer ligação num horário atípico ou uma mensagem mais seca deixavam nossas costas tensas, anunciando uma possível má notícia. E quem pode nos culpar, não é mesmo? O mundo foi tomado por uma pandemia marcada pela solidão e pelo medo. Junto disso, o caos social e político ficaram, se é que isso é possível, ainda mais escancarados para todo mundo ver, apesar de alguns ainda negarem e gritarem que o pior já passou.

Mas a verdade é que não é só uma gripezinha, e provavelmente todo mundo conhece alguém que já foi contaminado pelo vírus da covid-19. Assim como todo mundo, pelo menos em algum momento, se sentiu solitário, sufocado pela máscara do medo, com vontade de chorar e de gritar. E, para muita gente, eu inclusive, uma companheira foi essencial para ajudar nesse momento tão estranho. A nossa querida música!


A música em 2020 cumpriu muito mais do que nos entreter e balançar o esqueleto, até porque nem podíamos ir a shows ou clubes para tal. Nossos pets e móveis se tornaram espectadores assíduos de nossas danças mirabolantes. Ela foi nossa companhia, nossa ouvinte e nosso ombro amigo. Quando queríamos chorar, ela estava lá. Quando queríamos arrumar a casa, ela estava lá. Quando queríamos nos desligar do caos do mundo, ela estava lá. Seja numa balada dramática digna de clipe P&B, seja num pop perfection com coreografia atemporal, a música estava lá, cumprindo o papel de um abraço quentinho e seguro em tempos de isolamento social. 

Por ironia do destino, esse ano tivemos tantas músicas dançantes, que revisitaram os anos 70 e 80, e não pudemos sair de casa para aproveitá-las. Mas talvez isso seja uma coisa boa, afinal não acho que seria uma ideia muito agradável passar a quarentena ao som de baladas tristes e melancólicas. E não, não estou desmerecendo as produções de anos anteriores, estou apenas dizendo que o cenário em que fomos jogados em 2020 aflorou nossas emoções de maneiras absurdas, tudo foi apenas intenso demais para suportar sozinho. O mundo lúdico da música foi o escapismo que todos precisávamos, quase que ansiávamos, seja no mundo disco de Dua Lipa ou na floresta folclórica de Taylor. 


Ouso dizer que, pelo menos para os amantes da música, ela foi um suspiro, longo e relaxante, que expulsava as tensões provocadas por notícias ruins, e devolvia com melodias e composições extasiantes. O ato de escutar uma canção deixou de ser corriqueiro, e passou a ser uma experiência, digna de fechar os olhos, mesmo que apenas por minutos, para a dura realidade que o mundo passa. Talvez você já tenha percebido isso, afinal você está em um site de música, mas caso tal pensamento nunca tenha passado pela sua mente, eu te convido a pensar nos momentos que uma música reconfortante acabou com o silêncio angustiante da sua casa. Garanto que você já se pegou cantarolando enquanto lavava a louça!

A verdade é que ninguém vai sair da pandemia do mesmo jeito que entrou, e os nossos artistas favoritos também estão no mesmo barco. Ainda não sabemos, mas podemos supor que projetos foram descartados, repaginados ou iniciados, tudo por influência de apenas 4 dígitos: 2020. Podem ser os melhores projetos da carreira, os mais obscuros, os mais lúdicos, os mais reflexivos e, até mesmo, os projetos que vão marcar para sempre a nossa vida. Mas essa é uma questão que só o tempo dirá…

Enquanto isso nós esperamos, com uma esperança que muitas vezes tropeça e cambaleia, afinal ser brasileiro não é uma tarefa fácil. E por hora eu posso apenas dizer: E que venha 2021, ainda com máscaras e álcool em gel, mas com a certeza de que a música vai nos acompanhar, ou pelo menos encher nossos ouvidos enquanto andamos de pijama pela casa.

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