Jeremy Zucker se desprende das amarras de um relacionamento tóxico no brilhante álbum "CRUSHER"

Sem dúvidas, Jeremy Zucker tem sido um desses artistas atuais com o apelo sentimental sempre muito aguçado. As doces canções de seu álbum de estreia love is not dying estão aí para provar isso. Mas surpreendentemente, em seu segundo trabalho de estúdio, o cantor mudou da água para o vinho como um grande ato de rebelião que não podia ser mais certeiro. Em CRUSHER, o músico troca a linha melódica de seu debute e ousa se entregar aos seus pensamentos mais amargos que ecoam de forma desenfreada e brutalmente honesta.

Chega a ser um grande choque ver o mesmo cantor que cantava sobre o amor não estar morrendo agora declarando um ódio mortal e uma profunda decepção com sua parceira. Lançado apenas um ano antes, o primeiro álbum nos cobria com um manto de compaixão, enquanto o novo disco se opõe em um ar sagaz de destruição.

Nas palavras de Jeremy, a inspiração dos dois trabalhos veio da mesma pessoa, o que deixa tudo ainda mais curioso. "Demorei a perceber que a pessoa para quem escrevi ‘love is not dying’, na verdade, não tinha reconhecido nada disso. Durante esse tempo, muitas coisas vieram à tona... ‘CRUSHER ’é a minha resposta. Retiro tudo o que disse. Durante o processo de composição deste álbum, tornei-me mais eu mesmo do que nunca. É um eu mais cru e confiante., confessa ele.


Com um coração pesado, Jeremy desabafa sobre suas maiores frustrações amorosas e transborda um lirismo visceral jamais visto em sua carreira. Os sentimentos conflituosos e o senso de reflexão incontrolável faz deste álbum uma obra honesta, poética e incrivelmente intensa em sua essência. E é em meio ao caos que ele claramente se encontra novamente.

Logo na faixa de abertura "i-70" percebe-se um som mais orgânico e cristalino, envelopada por um clima agridoce que contrasta entre picos de liberdade e solidão. Já "Deep End" emula um pouco do que estamos acostumados a ouvir do artista, mas com um toque certamente mais rebelde. Já "Cry With You" proporciona um dos momentos de maior conforto de todo o disco, onde a esperança ainda existia no relacionamento em forma de uma cumplicidade cega e genuína. É o momento mais poético do projeto. Em seguida, vem "i can't look at you" com uma mudança de perspectiva drástica e irreversível do que antes era considerado um grande amor.


Para colocar para fora toda a fúria que sentiu, Jeremy Zucker apostou em elementos de produção com mais energia, lembrando um pouco da estética dos anos 2000, com bateria ao vivo, sons saturados e bastante gritaria como o pop rock explosivo de "Therapist", o refrão grandioso de "HONEST" e a despojada "18". Já em momentos mais lentos, o cantor consegue capturar um lado mais introspectivo de toda a situação, como é o caso da melancolia abafada de "when i'm around" e a delicada "Sex & cigarettes", que fala sobre cansaço e dependência química. Destaque para o detalhe do verso "o cinzeiro dela em meu travesseiro", que de forma muito simbólica representa uma pessoa se destruindo e tirando o descando da outra.

Já nas últimas faixas, a complexidade de um relacionamento tóxico se instala em forma de sons mais ácidos e distorcidos para que ao chegar na última faixa, "No one hates you (like i do)", tenhamos um final flamejante e catártico, sintetizando as raízes do CRUSHER. É aí que concluímos que essa desilusão não o levou ao fundo do poço, mas sim à sua maior reinvenção pessoal e criativa. Este é um álbum de afirmações fortes que impressiona com a dualidade entre o que é sensível e violento. Um grande acerto na discografia de Zucker.

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