Em “Post Traumatic”, Mike Shinoda revela como sobreviveu após a morte de Chester Bennington

Em 2017, tivemos a notícia que chocou o mundo: o suicídio de Chester Bennington. Todos nós ficamos devastados e até hoje é difícil de superar a morte do músico. Quase um ano depois, seu parceiro de banda, Mike Shinoda lança seu debute, Post Traumatic, e traduz o sentimento de dor e perda que todos nós sentimos.

A tragédia que aconteceu no ano passado não impactou só os fãs do Linkin Park. Todo mundo se sentiu com o coração um pouco mais pesado naquela tarde de julho. Se o choque foi grande desse jeito para nós, imagina então para Mike Shinoda. Do dia pra noite, o cara perdia seu melhor amigo e seu grande companheiro de banda, com quem compartilhou quase que uma vida toda juntos, incluindo sonhos, vitórias, tudo ao seu lado. Perdê-lo, portanto, obviamente não foi fácil e abriu em seu coração um buraco desolador e de incertezas, perfeitamente representado no tão aguardado álbum de estreia do músico.


Post Traumatic nos guia pela cabeça de Mike Shinoda durante todo esse período de dor e insegurança pós-morte de Chester. O músico usa o álbum como pura terapia, para ele e para os fãs. Trata-se de um disco reflexivo, onde o cantor expõe, como em nenhum outro projeto, seus anseios e sentimentos mais pessoais. Dessa forma, ele faz da música seu guia que vai de encontro com a tragédia, tristeza, dúvidas e a cura em um álbum incrivelmente intimista, angustiante e sincero.

Experimentando um som que flerta com o pop rock e o rap, Mike Shinoda utiliza um piano fúnebre e uma ambientação eletrônica bem seca para expressar o seu luto através da música, incluindo todas as suas dúvidas e tristeza em um disco que se divide bem entre cinco estados emocionais básicos para a maioria das pessoas que passam por uma perda como essa: o coração pesado, a negação, a incompreensão somada à raiva, o conformismo e a aceitação. 


Em clima reflexivo e lento, o álbum começa com “Place To Start”, faixa que já nos contextualiza no primeiro impacto chocante de imediato depois da tragédia. Acompanhado de sintetizadores que crescem e diminuem, Mike Shinoda retrata sua fragilidade e estado instável ao tentar descobrir o que fazer da sua vida depois de ficar sem chão. A faixa fica ainda mais real ao final, com os trechos de mensagens de voz de pessoas mandando seus pêsames e sentimentos para o cantor.


O mesmo clima desolador continua em “Over Again”, onde Mike revela estar em um ciclo vicioso de despedida e frustação que nunca termina. Além da letra, a faixa soube ilustrar esse ciclo muito bem pelo ritmo monótono e frio da música. É triste perceber que por mais que os integrantes da banda, amigos e familiares queriam um tempo para eles lidarem com a situação, sempre tinha mais e mais despedida que trazia aquele sentimento de dor novamente.

Um grande exemplo disso foi o show em homenagem ao Chester, que aconteceu em outubro de 2017. Se manter estável era, sem dúvidas, uma tarefa difícil para Mike, visto que algo para relembrar da dor estava aparecendo sempre, trazendo toda ansiedade em primeiro plano novamente, que é muito bem retratada pela adrenalina construída ao fim da música. Esse clima angustiante que retorna, portanto, é perfeitamente explorado em “Watching As I Fall”, uma faixa guiada por versos de rap cheios de dúvida e acidez.


Em “Nothing Makes Sense Anymore”, Mike Shinoda abre um novo ciclo, dessa vez lidando com a morte de Chester de forma muito mais próxima e pesada do que nas músicas pesadas, mostrando através de um ritmo perdido o quanto se sente perdido sem ele em uma faixa cujas protagonistas são a ansiedade e a confusão, tudo com um jogo de palavras bem poético e criativo, como os versos “My inside’s out, my left is right. My upside’s down, my black is white”.


Já em “About You”, o músico revela que mesmo quando tentava criar uma música que não fosse sobre Chester, acabava se tornando sobre ele de alguma forma. Tudo isso acompanhado com batidas pulsantes e rápidas que constroem uma bela ambientação para os versos de rap bem bolados de Mike Shinoda


Após ter retratado o seu caos de primeiro impacto nas últimas músicas, “Brooding” é uma interlude é uma faixa que faz a transição desse estado para um lado um pouco mais psicológico do disco. “Promises I Can’t Keep”, faixa dona de uma das melhores produções do álbum, constrói um cenário de tensão enquanto Mike revela não ter o tanto poder de autocontrole como achava que tinha. 

Mesmo com esse aglomerado de incertezas, Mike via a pressão de tomar mais riscos ainda e organizar sua vida, o que significaria deixar o Linkin Park para um projeto pessoal que daria vida a esse disco. “Crossing A Line” é a faixa que passa pelo desconhecido e pelo medo de ousar com a carreira solo, mas principalmente pela insegurança de começar algo novo e ter os fãs de sempre o julgando, dizendo que Mike se esqueceu do Chester ou do próprio Linkin Park. Para esse tipo de pensamento, ele responde “They’ll tell you I don’t care anymore/And I hope you’ll know that’s a lie/Cause I found what I have been waiting for/But to get there means crossing a line”. Nesse novo momento, Mike tenta conter suas emoções e demais devaneios e se manter firme, como narra em “Hold It Together”, uma faixa que esbanja attitude.

Antes do fim, o músico passa por uma longa jornada de conformismo, tentando se manter estável, mesmo nas suas recaídas. Esse tema se mantém predominante em faixas como a dançante “Ghosts”, a dinâmica “Make It Up As I Go”, o show de rap dado em “I.O.U”, a enérgica “Running From My Shadow” e a surpreendente “Lift Off”. Essa última é a única que não é esquecível nesse segmento, principalmente por conta da melodia do piano e a presença icônica de Chino Moreno no refrão.


Chegando ao fim do disco, Mike Shinoda agradece a todos que dão apoio a ele nas horas difíceis, tema de “World’s On Fire”, faixa muito bem executada, com batidas harmoniosas e iluminadas. E para concluir, nos deparamos com “Can’t Hear You Now”, uma faixa onde o músico encontra a luz no fim do túnel e mostra estar mais forte do que em qualquer outro momento do disco. Fluindo por graves fortes da música eletrônica, o álbum é encerrado de forma madura, otimista e indomável.

Ao mesmo tempo que o disco é vulnerável, ele é incrivelmente triunfal, sendo um ótimo capítulo para começar sua carreira solo. Musicalmente, Mike Shinoda pode ir muito mais longe do que foi nesse disco, porém o cantor soube traçar uma linha de cura por dentro de todas as suas dores, angústias e mágoas sentidas naquela época, até encontrar a luz. São sentimentos humanos com que todos nós nos identificamos ao perder alguém, ainda mais um ídolo como Chester Bennington. Dessa forma, Post Traumatic é a terapia em forma de música que todos nós precisávamos ter.

3 comentários:

  1. A melhor avaliação que li até o momento. Um álbum triunfal, necessário e glorioso. Mike terá todo o apoio dos fãs. Todos estávamos aguardando essa terapia musical há meses, e por fim, podemos passar e superar isso juntos.

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  2. A melhor avaliação que li até o momento. Um álbum triunfal, necessário e glorioso. Mike terá todo o apoio dos fãs. Todos estávamos aguardando essa terapia musical há meses, e por fim, podemos passar e superar isso juntos.

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