Qual a importância do retorno de Coldplay para o cenário atual?

Parece que ninguém esperava por um retorno tão rápido. Mas, cheios de surpresa como são, Coldplay apareceu antes do "previsto" com várias surpresas juntas. Com tantas novidades soltas de umas vez, podemos confessar que foi tudo de parar o coração e digo mais, essa volta é tudo o que mais precisávamos!

É inegável a presença que eles têm quando lançam qualquer coisa, mas desta vez parece um sentimento diferente. O último álbum que tivemos foi o A Head Full Of Dreams, de 2015. Algo muito colorido e cheio de vida, libertador. Depois tivemos o Kaleidoscope EP, em 2017, só para ainda termos um gostinho de que eles NÃO estavam encerrando a carreira ali, com um sonzinho mais experimental e criativo. Após isso tudo, silêncio... e mais silêncio... Coldplay sumiu e as especulações de críticos e outros informantes era de retorno para 2021. Suamos, é claro. Afinal, como assim a gente vai ficar sem vocês todo esse tempo ainda mais depois de um estouro desses?!!

Aí que morava a pegadinha. Eu diria que o termo coldplayer é a definição de somos cadelinhas do Coldplay, tenho certeza, porque caímos em tudo que eles falam que vai ser surpresa - ô desgraça de banda misteriosa maravilhosa!!! E aí veio... Graças ao erro(?) de adiantamento do pessoal da publicidade no metrô de São Paulo, tivemos a imagem do Coldplay em um pôster gigantesco numa estação - que foi retirada no dia seguinte e recolocada no outro dia (o Brasil deu esse spoiler, né mores). Mas não aconteceu só no Brasil. Literalmente TODOS os continentes tiveram posteres deles, quando do nada eles mudam a foto de perfil das redes para uma imagem de sol e lua, a gente ficou "???" e veio a contagem regressiva... BOOM!

Praticamente 3 dias de contagem resultou em surto e desespero. Fãs receberam CARTAS que anunciava a nova era (trabalhada em cerca de 100 anos, é o que dizia) e os JORNAIS de grande parte do mundo começaram a publicar a tracklist do álbum nos classificados. E, como vocês já devem ter visto, será um álbum duplo (16 músicas inéditas no total) previsto para o dia 22 de novembro, como mostrava o pôster de - ironicamente - 100 anos atrás. Ok, ok, mas a contagem não era só isso. Era para um lançamento também duplo! Duas músicas que fizeram nosso botão de repeat quebrar - acreditem, tô ouvindo elas até pelas vozes da minha cabeça.


Uma das canções é essa aí acima que vem da primeira parte do álbum chamada Sunrise. A faixa se chama "Arabesque", que traduzindo literalmente é arabesco, uma forma de arte islâmica. E primeiro vamos pensar sobre a produção dessa música que arrepiou até o último fio. O contraste orquestral que ela traz é simplesmente MARAVILHOSO! Claro que já vimos um Coldplay bem orquestral lá na era Viva La Vida, mas sempre tem algo diferente e, o que mais me choca é pensar nesse estilo meio jazz-orquestral só que construído numa mistura ocidente e oriente médio - será que é assim que deveríamos interpretar?! Até porque o nome se relaciona... Bom, não sei, mas eu achei inteligentíssimo!

Continuando a avaliar a canção, podemos ouvir francês! Sim, quem fez uma parceria "escondida" com eles foi Stromae, um dos maiores nomes da música atual francesa. Indo pro âmbito lírico, é para mim, a canção mais forte de Coldplay. O que ela fala, no geral, é que todos nós somos do mesmo sangue, somos filhos de um mesmo mar, uma mesma mãe. Na voz de Stromae ouvimos uma mensagem de paz: Comme deux gouttes d’eau/On se ressemble/Comme provenant de la même mère - que diz como duas gotas d'água, nos unimos como se viéssemos do mesmo mar. "Mère", em francês, também significa mãe. Além disso, temos uma frase de Fela Kuti ("music is the weapon"), um grande nome do estilo afrobeat e ativista político dos direitos humanos. Seu filho mais velho, Femi Kuti, é inclusive quem toca a trompa na música! E o filho de Femi, o Made Kuti, é quem toca o saxofone e orquestrião! Tudo incrível!




O outro lançamento vem da segunda parte o álbum, intitulada Sunset, é "Orphans". Esta é mais pop que a anterior, para lembrarmos um pouquinho do que tivemos na era AHFOD, mas com novos gostinhos. O mais encantador da música certamente é o coral constituído por crianças, Apple e Moses (filhos de Chris) com crianças do oriente médio dividem as vozes no refrão com Chris Martin. A guitarra é mais marcante e animada nessa, e a percussão divide seu som com a voz de Moses reproduzindo sons de bomba e, por isso, ele é também um dos compositores desta faixa.


Olhando para a letra, a música não é tão feliz de início. Ela conta a história de Rosaleem e seu pai, ambos mortos em um ataque a cidade de Damasco, na Síria. Ela conta como Rosaleem era uma linda menina com um futuro brilhante de atriz e que seu pai sairia para buscar tulipas cor de mel (flores símbolo da região cuja cor significa esperança). Por fim, a canção conta que agora ela e seu pai agora estão protegidos por Querubins e Serafins - arcanjos mensageiros.

Everyday Life será o oitavo álbum da banda e segundo o que vimos, uma parte pode ser mais experimental e outra mais pop. Além da dualidade conceitual das visões de mundo diferentes em cada parte. O próprio Chris Martin trouxe mais novidades sobre o álbum.
O projeto todo se resume ao fato de sermos humanos. Todo dia é ótimo e todo dia é terrível… Tudo parece meio solto. Há tanta vida explodindo em todo planeta.
O álbum é a nossa reação à sensação de negatividade que existe em todo canto. E há muitos problemas, mas também há muita positividade e muita coisa boa está acontecendo. Então de certa forma, é tentar fazer com que as coisas façam sentido, dizendo o que sentimos e o que a gente vê.
A verdade é que houve algo em nossa última turnê que me deixou em paz com o fato de falar abertamente e não me importar se as pessoas discordam. Essa foi a primeira vez que nós sentimos como ‘Chegamos a esse lugar como uma banda então não há nada para pensar quanto à carreira.’ Você pode falar livremente e deixar todas as cores da vida surgirem.
Parte do disco é bastante pessoal, sobre coisas reais da minha vida, e outra parte é sobre coisas que eu vejo ou que a gente vê, e uma outra parte é sobre a empatia em relação ao que outras pessoas estão passando.
Eu começo a concluir que a mais esperta jogada deles é a desconstrução e visibilidade de um outro pensamento. Coldplay dá abertura para que uma outra dimensão - também pertencente a nós - seja ouvida, ou seja, o impacto que eles realizam em "dar voz" ao Oriente Médio é gigantesco. Com isso, temos um retorno digno de ótimas aclamações, mas que, na verdade, para eles não importa concordarem ou discordarem, a relação que eles têm com o mundo é o que de fato merece ser visto. 

Tudo que mais precisávamos nesse momento era de mais esperança. Coldplay nos traz um pouco e nos ajuda a acreditar que o mundo ainda resiste, ainda há empatia e muita vida. Eles mostram que a música é a arma do futuro e que nós somos todos uma única banda! Digo que esse é, portanto, um dos retornos mais memoráveis da história da música!