As histórias inusitadas de Ben Howard em "Collections From The Whiteout"



Fãs de Ben Howard já entendem que quando se trata de aguardar o próximo lançamento é uma espera longa… muito longa. Mas, dessa vez, foi uma surpresa ele chegar 2 anos depois do último single, melhor ainda por ser um álbum com 14 inéditas! Finalmente damos as boas-vindas ao Collections From The Whiteout.


O último álbum do cantor inglês foi o Noonday Dream, de 2018. Um trabalho completamente diferente do que ele havia lançado anteriormente, até um pouco mais demorado para assimilar tanta coisa que continha - e com isso eu uso o melhor dos sentidos possíveis! Apesar de ter sido um álbum diferentão, ainda cumpriu com toda poesia e imersão que o Ben sempre traz. Foi uma obra de arte que nos fez levar o tempo de espera estudando as mudanças e apreciando cada segundo. 


Ele não parou em 2018, porque havia uma turnê a cumprir até o ano seguinte e ainda tivemos a alegria de receber mimos da era no fim daquele ano: "Another Friday Night", "Hot Heavy Summer" e "Sister". Em 2019, ele ainda nos surpreendeu com "Heavy Ho", mas sabíamos que assim que acabasse a turnê, esperaríamos no mínimo uns 4 anos para o retorno. Ah, mas o que não sabíamos de fato era que estávamos errados! E que alívio receber um novo trabalho de Ben Howard num tempo como esse.


Collections From The Whiteout é o quarto e mais recente trabalho de estúdio do nosso querido inglês do folk - que às vezes quebra para o alternativo. Minuciosamente grandioso e lindamente aleatório, esse é um compilado de histórias do Ben misturadas às histórias de outros.  Também, pela primeira vez, Howard deixa os rostos familiares serem compartilhados com outros novos; dessa vez ele contou com a colaboração de Aaron Dessner (The National) na produção e Youssef Dayes, Laura Marling e Bon Iver nos instrumentais, além dele mesmo, é claro!



Esse novo álbum é uma grande coleção de histórias que flutuam da mente de Ben Howard sobre outras histórias comuns ou extraordinárias. O primeiro single foi "What A Day", que é uma música perfeita para descrever o tempo em que estamos vivendo e não poderia ser melhor para começar a era com um pouco de conforto por se identificar em tudo isso. Entretanto, não sei exatamente o que Howard quis transmitir, mas dentro de mim tudo se encaixou com o momento difícil em que vivemos; como diz a letra: “where does all the time go?”. Além disso, o clipe é ironicamente fofo!


Por dentro das histórias do álbum, foi de explodir a mente entender a genialidade do artista. Um compilado de contos sobre coisas que menos poderíamos imaginar junto a outras que conhecemos envolvendo amor e melancolia. Mas, tendo isso, irei destacar aqui as que mais me chamaram atenção e me surpreenderam por conseguir entender.


Começando por "Crowhurst’s Meme", o segundo single, que fala sobre Donald Crowhurst, um marinheiro amador que entrou numa competição de rodar o mundo com um navio e desapareceu no meio do Atlântico. Uma música extremamente bem composta e bem satírica, por assim dizer. A inspiração de Ben veio com uma guitarra sintetizada que a ele lembrou uma “náusea marítima” como ele tentou descrever. Simplesmente incrível!



"Sorry Kid", última lançada antes do álbum, é um trocadilho com o nome de Anna Sorokin (parece sorry kid em um inglês corrido), uma mulher que se envolveu em um escândalo de fraude na mídia fingindo ser uma bilionária. Apesar da interpretação, Ben explica que ao mesmo tempo a música foi composta sobre ela e sobre nada, no geral. Ele explica sobre as interpretações das músicas:

As pessoas estão sempre procurando o significado das coisas, mas talvez agora seja um período muito bom para apenas ter um momento em que tocamos uma música que talvez represente um sentimento em vez de um significado personalizado.

Outra história legal é a de "Metaphysical Cantations", que conta uma aventura para encontrar a tumba de Tanit, a deusa-lua da fertilidade cultuada em Cartago, no norte da Tunísia. A canção usa bem a percussão e guitarra para parecermos estar realmente numa viagem aventureira, bem como pode parecer um rito à deusa. 


Também destaco "Far Out", que de um jeito bem diferente numa guitarra muito bem elaborada, traz umas críticas sobre como nós fomos e somos responsáveis pela destruição do nosso ecossistema. E "Make Arrangements", que é um lado mais folk de uma história que fala sobre mudanças, fazer diferente. 



Por último, conto sobre "The Strange Last Flight of Richard Russell", que fala sobre o roubo de um avião realizado por Richard Russell que não foi nada bem sucedido, visto que ele não tinha experiência como piloto e a aeronave despencou e ele morreu. A música parece trazer alguns “sons de aeroporto” com o piano e traz boas metáforas sobre ele ter voado direto à Lua. 


Collections From The Whiteout traz magicamente histórias diferentes muito bem pensadas e com ritmos que se alternam. Chamar de “collections” parece ter sido uma ótima opção para que nada parecesse tão aleatório e desconexo. Ben Howard mais uma vez entrega elementos alternativos e experimentais, porém mais maduros e com seus toques especiais e de raiz (como as folk mais “clássicas” e orgânicas como Buzzard, Rookery e Unfurling). Um passo e tanto em mente aberta, explorações, inteligência e maturidade.


Ah, e uma novidade: no próximo dia 8 de abril, Ben Howard fará uma transmissão digital global única para celebrarmos o lançamento em diferentes horários de acordo com as localidades, e você pode adquirir um ingresso aqui.

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