Diego Moraes e seu retorno dançante e sentimental

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Diego Moraes, um finalista de uma das edições do programa Ídolos, está de volta com sua carreira solo e arrasando no que faz. Aproveitando esse momento, nós tivemos umas palavrinhas com ele sobre o novo álbum e single e muito mais!

Diego Moraes teve seu momento no programa de forma surpreendente até mesmo para ele. Dono de uma voz poderosa e cativante, a gente logo percebe por que ele foi finalista! Entretanto, ele andou sumido por uns bons anos e muita coisa aconteceu na vida dele. O seu retorno com o álbum #ÉQueEuAndodeÔnibus define bem o período de fora do mundo da música. A boa produção deu resultado até no belíssimo clipe de "Muderno" - um clipe vivo e recheado de encantos. Com toda essa volta, batemos um papo bem bacana com ele, que falou do Ídolos, da vida pessoal e o processo de composição do álbum (o que foi realmente inspirador!). Confira a entrevista na íntegra:


KT: Você ficou conhecido pelo Ídolos, né? Quais foram os principais aprendizados que você teve no programa e ao longo da sua carreira pra chegar no Diego de hoje?

Diego: Já faz quase dez anos que participei do programa. Eu trabalhava em um shopping e tocava a noite em bares. Eu não tinha muita perspectiva de sair dessa vida, só que eu morava com uma amiga e foi ela quem me inscreveu lá no programa e eu fui ver como que era e acabei chegando na final. Depois disso, acabei tendo experiências dentro da indústria da música, vi como funciona o mercado da música e aprendi muito com isso. Inclusive, eu fui para uma gravadora lá no Rio de Janeiro e depois que eu vi como as coisas funcionavam, eu preferi voltar a ser um artista independente. Mas também o Ídolos proporcionou uma visibilidade nacional. Até hoje pessoas me param na rua e me cumprimentam.

KT: Agora você está com o álbum novo, “#ÉQueEuAndodeÔnibus”, que é um trabalho completamente contemporâneo e eclético, né? Queria que você me contasse um pouco das principais ideias que você teve pra esse disco.

Diego: O álbum surgiu, na verdade, de uma fossa - e não só amorosa. Eu me desvinculei da gravadora e do escritório no Rio de Janeiro, terminei um relacionamento e entrei em questões pessoais me levaram a um claustro e me fizeram voltar a morar no interior de São Paulo. Foi nesse período que a ideia do álbum surgiu. As músicas são todas parcerias minhas com amigos, tendo apenas "Balada do Louco" que é uma nova versão para a música de Arnaldo Baptista com a Rita Lee. Foi um período que meus amigos estiveram muito presentes para mim por conta do meu sumiço. E esse álbum tem o single "Muderno", e ele mostra justamente isso. Eu estava em um boteco com um amigo e ele perguntou como eu estava e eu respondi: "eu tenho olhado muito para o céu" e ele me perguntou por que e eu disse: "é que eu ando de ônibus". Assim que surgiu a música. E o ônibus é, na verdade, uma figura emblemática para a criação deste álbum. Como eu não tinha dinheiro para um terapeuta, o ônibus acabou me colocando em uma posição meditativa que me vez ouvir mais. Então, quando a gente pensa que tem os maiores problemas da vida, só precisamos mesmo abrir um pouco mais os "olhos" dos ouvidos e entender o que outras pessoas tem a dizer e você percebe que é apenas uma fase, vai passar. E não fui eu quem escolhi essas músicas, elas que me escolheram e me ajudaram a passar de toda essa fase.


KT: Que inspirador! E sem duvidas, não podemos deixar de falar da viagem incrível que você faz do Jazz até o MPB, criando uma originalidade muito expressiva. Da onde vem isso tudo? Tem algumas influências?

Diego: Eu consigo ver nesse álbum todas as minhas referências. A minha mãe cantava Elis Regina enquanto lavava roupa, meu pai cantava sertanejo de raiz com os amigos dele e eu sempre fui muito fissurado em música clássica e jazz. Por exemplo, eu consigo ver no álbum coisas muito demodê - essas coisas de intérprete, né - e também consigo ver até música sertaneja, consigo ver muito jazz e muito soul. Acho que reflete muito das minhas referências. Considero meu primeiro disco como número 0 e esse como número 1.

KT: Muito bacana. Há alguma fórmula que você usa pra criar essa sonoridade?  

Diego: Minha criação geralmente vem da ressaca, mas o tempo todo têm melodias brotando da minha cabeça. Elas simplesmente surgem em mim o tempo todo, não há nenhum momento específico.

KT: E algo muito interessante que percebi, é que o álbum segue de certa forma em uma linha poética e criativa bem inusitada. Queria saber um pouco de como é esse processo de compor pra você e o que você preza nele. Se você tem alguma referência de compositores, talvez.

Diego: Eu não me considero um bom compositor. Músicas aparecem em mim de um ano em um ano, então eu estou rodeado de compositores geniais. Mas não só compositores, grandes referenciais literários também estão presentes na minha vida, por exemplo, a Hilda Hilst.

KT: E o clipe de “Muderno”? Achei tudo muito diferente e cativante do começo ao fim. O clipe traz muita coreografia, cor e acima de tudo, um conceito bem legal. O que você pode falar dessa produção? Da onde veio a ideia e como isso tudo rolou?

Diego: Muito lindo! É um clipe absolutamente autobiográfico. Ele é dirigido pela Casa 38 Estúdio, a Thaís Lago, uma grande atriz, a Carmen Campos... Eu cheguei a ideia de que eu queria um clipe que falasse das minhas vivências, meu cotidiano, minhas histórias. Tanto do espetinho que eu comia no ponto de ônibus depois do trabalho, meu café da manhã... E essa coisa de sair beijando todo mundo, porque eu sou bem beijoqueiro. Esse clipe mostra muito da minha história e a ideia de colocar a dança foi da Casa 38 e a coreografia é de uma amiga minha muito talentosa, a Debora Veneziani. Então acabou resultando em um trabalho audiovisual muito bom. Fiquei muito satisfeito com o resultado.

KT: E você trata de questões atuais importantíssimas com uma leveza muito boa, principalmente no clipe. Como você vê a importância do seu trabalho contextualizada no nosso cenário atual, tanto social quanto político?

Diego: Sem querer eu compus uma música triste e dançante. "Muderno" eu acredito que seja como o samba, uma música que fala de dor mas é dançante ao mesmo tempo. Acho que isso é um dom do brasileiro. O clipe traz questões que não deveriam ser, mas são um tabu. E também é um clipe que não deveria ser político, mas diante da nossa situação política atual que desencadeou o desvelamento do preconceito, acabou sendo. Acho que a coisa que seja a mais polêmica que vi pelos comentários foi o beijo. Não deveria ser uma questão política, mas infelizmente é. O fato de eu beijar uma pessoa do mesmo sexo que eu acaba me tornando uma pessoa política.  Mas ao mesmo tempo, é um clipe que fala sobre questões sérias: basicamente o cotidiano de um jovem sem dinheiro tentando viver feliz na cidade. Isso é política. A minha existência quanto gay, cis e negro na sociedade infelizmente é política.

KT: Pra finalizar, agora que você tá voltando com a sua carreira solo a todo vapor, queria ouvir um pouquinho de você sobre as suas expectativas e qual impacto você quer causar em quem está te ouvindo pela primeira vez?

Diego: Eu acho que a minha vinda ao planeta como um artista é para "destaburizar" essas coisas que não deveriam carregar um tabu. E o que eu quero passar para as pessoas que me ouvem pela primeira vez é que vai ficar tudo bem!

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