Cage The Elephant e a atmosfera sombria de "Social Cues"

Após o sucesso de Tell Me I'm Pretty, Matt Schultz, frontman do Cage The Elephant passou por muita coisa: o término do seu relacionamento de mais de sete anos e a perda de três grandes amigos. Tudo isso resultou no sombrio novo disco da banda, o tão aguardado Social Cues, mais uma grande prova de que o nosso Cage nunca decepciona.

Durante as treze faixas, o clima permanece de luto e reflexão. São letras bem pessoais, como um verdadeiro diário de Matt Schultz, em que o mesmo reflete sobre a exaustão ao estar no auge da fama e ao mesmo tempo sofrendo por dores e ansiedades tão intensas. É um álbum que não tenta equilibrar a emoção de forma alguma. Suas palavras são imensuráveis e seus sentimentos são viscerais. Esse combo traz uma grandiosidade e um toque especial a cada canção.

Isso tudo é ainda embalado com uma sonoridade de primeira, que exalta a personalidade musical camaleônica da banda muito bem. Social Cues foi produzido por John Hill, reconhecido pelos seus brilhantes trabalhos com Portugal. The Man, Eminem e Rihanna. Com essa parceria, mantém um som cru, que equilibra o incrível neo-soul da banda com texturas mais pesadas de garage rock. Essa mistura excêntrica e tão contrastante é responsável por uma musicalidade madura, profunda e assombrosa, mas que sempre flui com plena desenvoltura.


A faixa de abertura, "Broken Boy", já começa de forma arrebatadora, nos dando um ar do que vem por aí. Com vocais distorcidos e percussão psicodélica, a banda já projeta o sentimento de se sentir rejeitado e virado do avesso por meio de um glam rock bem rebelde, contando ainda com a presença de uma pegada surf punk que cai muito bem ao Cage. Com essa introdução, "Social Cues", faixa que dá nome ao álbum, continua a narrativa colocando na balança as ansiedades e devaneios que acompanham a vida nos holofotes da fama: "I'll be in the back room, tell me when it's over / People always say, "Man, at least you're on the radio". A mesma temática continua na charmosa melancolia de "Black Madonna" e na libertadora "Skin and Bones".

Quebrando um pouco com a atmosfera densa e pesada do disco, temos logo um dos grandes destaques do disco: "Night Running", a despojada e impressionante parceria com Beck. É um estilo diferente para a banda, com um flow fresco e cheio de atitude. A música é também uma das mais experimentais do disco, combinando o art rock com o dub reggae perfeitamente, enquanto Schultz e Beck cantam sobre uma fuga noturna com vampiros e olhos de raio-x.


A cereja do bolo, portanto, fica por conta da ferocidade indomável de "Ready To Let Go", o ótimo carro-chefe do álbum. Na canção, Matt Schultz faz referência direta ao seu divórcio, espalhando as cinzas de seu amor perdido com um roots rock que flerta com blues de forma muito memorável. A esteria continua na guitarra progressiva de Brad Schultz na turbulenta "House of Glass", que projeta perfeitamente o sentimento e a confusão pós tais acontecimento. A faixa por si só desperta uma tempestade perturbadora no ouvinte, com um ritmo frenético e versos ásperos.


Além da parte explosiva do disco, outro grande pilar fica por conta das camadas sombrias e esfumaçadas de algumas canções, numa vibe meio The Last Shadow Puppets. É o exemplo do cenário paranoico e do refrão catártico de "Dance Dance", do new wave psicodélico de "Tokyo Smoke" e das monótonas "The War Is Over" "What I’m Becoming".

Por mais que as melodias mais estouradas ainda sejam o supra supo do Cage The Elephant. Em Social Cues, também somos impactados com hinos intimistas e bem pessoais, como a sinfônica "Love's The Only Way", que tem uma introdução lúdica que lembra o estilo vintage de Lana Del Rey. Com vocais delicados, Matt Schultz canta sobre achar a luz no fim do túnel após todo o caos. Com sentimentos mistos, a canção penetra em nossos ouvidos como raios de sol em um dia nublado.

E, por fim, "Goodbye" também expressa esse lado mais sentimental da banda, encerrando o disco com chave de ouro, como uma perfeita conclusão ao disco. Com um piano fúnebre, o Cage The Elephant traz aqui um hino agridoce de tensão, dor e aceitação. Como uma verdadeira obra de arte, a faixa é o clímax do trabalho, expressando todo o sentimento de forma muito poética e genuína: "My heart's an ashtray and I lost my mind / You bring the smokes, I've got the time".

Assim, de forma muito dolorida, a banda se despede, entregando toda sua alma, lutando contra a exaustão mental após lutar com tanta escuridão. É aqui, em seu fim, que Solid Cues é iluminado de forma tão expressiva. Assim, do melhor jeito possível, Cage The Elephant, realça a coesidade deste trabalho e a genialidade que a banda vem concretizando e transformando a cada novo lançamento.

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