Luísa Sonza transforma o espetáculo da vida pessoal em música com “Doce 22”

Ao passo em que sua carreira crescia, paralelamente Luísa Sonza assistia o tom das críticas subirem cada dia um pouco mais. No último ano, em meio ao próprio trabalho, o fim do casamento e início de um novo relacionamento, os boatos e ataques ficaram insuportáveis para a cantora que decidiu transformar o que sentia em música.

A resposta aos haters veio na madrugada do último domingo (18), com “Doce 22”, segundo álbum de estúdio de Luísa. Lançado no dia em que completou 23 anos, as 14 faixas foram divididas em duas partes mostrando lados opostos da cantora e o turbilhão de emoções que enfrentou no último ano.

O lado A do disco exibe a Luísa Sonza “braba” que já conhecíamos e tem como carro chefe “INTERE$$EIRA”. Na mistura de trap e adjetivos que já ouviu - sem talento, sem graça, forçada -, a cantora está disposta a mostrar sua versão dos fatos. Na dançante “VIP *-*” que conta com a participação do rapper 6LACK, Luísa volta ao pop com um recado claro: mais do que casamento e filhos, o amor da vida dela é a própria carreira.


A ousada “2000 s2” é como uma viagem ao tempo, a sonoridade remete à grandes hits de nomes como Britney Spears e Christina Aguilera, cantoras que são referências para Luísa desde criança. O nome do disco também é inspirado na década: o “Sweet 16”, que em alguns países marca a transição de menina para mulher e a alusão ao programa “My Super Sweet 16”, da MTV, o reality show que transformava a vida de jovens em espetáculo, o que também aconteceu com Luísa durante o ano de 2020.


O lado A ainda conta com “CAFÉ DA MANHÃ ;P”, parceria com Ludmilla, “ANACONDA *o* ~~~”, com a participação de Mariah Angeliq, que é uma das recentes revelações do reggaeton e trap latino e “MULHER DO ANO XD”. Apesar de estar presente no projeto, “MODO TURBO”, e ser um dos grandes hits do ano ao lado de Pabllo Vittar e Anitta, facilmente poderiam estar fora da tracklist.

“Eu queria dizer que é inadmissível que a gente passe a vida toda procurando por algo que no final vai doer, mas eu sei que o que dói não é o amor, sabe? As pessoas que não sabem amar. Elas te obrigam a ser pequena. Elas te obrigam a se desfazer do que você é, das suas peças, a se desencaixar de você mesma pra se encaixar em lugar que você nem pertence. E você tem tanta certeza que um dia o amor dos seus sonhos vai finalmente florescer que nem se importa de se quebrar um pouquinho. Se é tudo em nome do amor, por que mesmo assim você não se sente amada?”

A interlude abre o lado B e é como dar play em um novo álbum e conhecer uma nova Luísa. Muito mais intimista, a segunda parte do projeto é apresentada por uma mulher que deixa de lado o inabalável e apresenta suas inseguranças. Aqui, sua voz e timbre ficam mais evidentes. Com o arranjo de um violão, em “melhor sozinha”, Luísa canta sobre estar bem só e o medo de se entregar em uma nova relação. Já nos versos “eu tive que desaprender a gostar tanto de você” presentes em “penhasco", uma Luísa melancólica e frágil acompanhada de um piano apresenta, sem dúvidas, a melhor música do projeto. Nas duas canções, quem fala é alguém que teve o coração partido e precisa se reconstruir.


O lado B ainda conta com “fugitivos :)” com a participação de Jão, “caos / flor ***” onde o tom ousado e sensual de Luísa retornam, “o conto de dois mundos (hipocrisia)” que funciona como uma carta para o pai e a saudade que sente da vida tranquila que a cantora tinha antes do sucesso no interior do Rio Grande do Sul e “também não sei de nada :D”, que ao lado Lulu Santos, um de seus ídolos, Luísa debocha da própria hipocrisia.

“Quem sou eu pra julgar alguém? Assim como ninguém é melhor que eu, eu não sou melhor do que ninguém. Falo de hipocrisia, mas também sou hipócrita. Todo mundo é! E se você acha que não é, desculpa te decepcionar, dono da verdade, mas talvez você seja uma péssima pessoa. Se olhe com sinceridade e sem ego nenhum que você vai encontrar um monte de errinhos por aí. Eu encontro em mim todos os dias. E tá tudo bem, desde que você busque melhorar e evoluir incansavelmente”, afirmou a cantora.

Pensando na longevidade do trabalho, as músicas “CAFÉ DA MANHÃ ;P”, “ANACONDA *o* ~~~” e “fugitivos :)” continuam bloqueadas nas plataformas de streaming e serão liberadas ao serem lançadas como singles. E o que posso dizer verdadeiramente sobre “Doce 22”? Ela soube transformar o espetáculo gerado pela sua vida pessoal em benefício próprio. Assim como a música que encerra o projeto “também não sei de nada :D”, Luísa Sonza mostrou o quanto sua evolução pessoal teve impacto na sua vida profissional. Não acredito que esse seja o álbum da sua carreira, mas o turbilhão de emoções apresentados aqui geram identificação com seu público e a sinceridade é algo para se exaltar nos dias de hoje.

Goste ou não, Luísa Sonza é um dos grandes nomes do pop brasileiro. E nem que seja apenas vencido pela curiosidade ou mais uma vez para atacá-la nas redes sociais, ela pode contar com o stream dos haters.

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